terça-feira, janeiro 27, 2009

O POVO NA EUCARISTIA

Por muito que se fale do envolvimento da comunidade na Eucaristia, a Missa ainda parece permanecer, ao olhar de muitos, como um exclusivo do padre.

Cabe-lhe, pois, (como elemento constitutivo da sua missão) motivar a assembleia para a plena participação na Eucaristia. Decididamente, o verbo a conjugar, aqui, não é ir ou assistir, mas verdadeiramente participar.

É bom não esquecer que o Vaticano II apresenta a Eucaristia como «a fonte e o ponto mais alto da vida cristã». Ou seja, é o ponto mais alto não apenas da vida presbiteral, mas de toda a vida cristã (de presbíteros e de leigos).

Os fiéis leigos — assinala o Concílio — «concorrem para a oblação da Eucaristia em virtude do seu sacerdócio real. Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã, oferecem a Deus a vítima divina e a si mesmos juntamente com ela; assim, quer pela oblação quer pela sagrada comunhão, não indiscriminadamente, mas cada um a seu modo, todos tomam parte na acção litúrgica».

O sacerdócio de todos é manifestado e exercitado durante a Missa em dois momentos-chave: a oblação (que é a oferenda e a consagração) e a Comunhão.

Como nos lembra Raniero Cantalamessa, o que Jesus quis dizer com as palavras Fazei isto em memória de Mim (cf. 1Cor 11, 23-26) não foi simplesmente Repeti este rito tal como Eu fiz. Ele quis igualmente dizer Vós, também, deveis fazer tudo o que Eu fiz: também vós deveis oferecer o vosso corpo em sacrifício!

Era isto o que S. Paulo queria dizer quando recomendava aos cristãos que «oferecessem os seus corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus» (Rom 12, 1) e o que S. João tinha em mente quando disse: «Jesus deu a vida por nós; portanto, nós também devemos dar a vida pelos irmãos» (1Jo 3, 16).

Como é sabido, Jesus ressuscitado é o Cristo total, Cabeça e corpo inseparavelmente unidos. Refere ainda Raniero Cantalamessa: «Dentro do grande “Eu” da Cabeça, o pequeno “Eu” de todo o corpo, que é a Igreja, está contido nela. E dentro disso, por seu lado, existe igualmente o pequenino “eu’ que sou eu, e eu também digo às pessoas que estão perante mim: “tomai e comei, isto é o meu corpo entregue por vós”».

O Padre Raniero Cantalamessa confessa de seguida: «Nunca fecho os meus olhos na consagração, antes olho para as pessoas que estão diante de mim. Ou, se estou só, penso nas pessoas a quem sou chamado a ministrar durante o dia, ou penso na Igreja como um todo. E juntamente com Jesus digo a todos: “tomai e comei, este é o meu corpo” (meu, sim especificamente meu)».

Na verdade, «enquanto sacerdote ordenado, a minha intenção, ao dizer estas palavras, é consagrar o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo; como cristão com os outros cristãos, a minha intenção é consagrar-me a mim próprio juntamente com Cristo».

Todos somos chamados, leigos incluídos, a oferecermo-nos nesse momento juntamente com Cristo! É claro que os irmãos leigos «sabem que estas palavras, como eles as dizem não têm o efeito de tornar o corpo e o sangue de Cristo presente no altar. Eles não agem, naquele momento, como representantes de Cristo (in persona Christi) como o ministro ordenado o faz. Mas eles unem-se a Cristo.

Por isso eles não dizem as palavras da consagração em voz alta, como o padre, mas sussurrando, na quietude dos seus próprios corações».
Fonte aqui

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Processos de declaração de nulidade do matrimónio

1. Quando os católicos se casam com todas as condições requeridas pela Igreja, o casamento é para toda a vida, isto é, é indissolúvel, e nem a Igreja o pode anular, segundo o que Jesus Cristo nos ensinou: «Não separe o homem o que Deus uniu».
No entanto, se há fortes razões para pensar que não se cumpriu um desses requisitos essenciais, qualquer dos cônjuges pode pedir à Igreja que, no caso de se comprovar, proceda à declaração de nulidade do casamento, isto é, declare que afinal o casamento não foi válido.

2. A petição do cônjuge para que a Igreja declare a nulidade do seu casamento é apresentada normalmente na diocese em que se celebrou o casamento ou em que reside pelo menos um dos cônjuges.
Como o estudo do caso requer um processo especializado, o Bispo tem na sua diocese um Tribunal, cujo presidente é o Vigário Judicial, que actua em nome do Bispo.
Assim, o cônjuge interessado põe-se em contacto com o Tribunal eclesiástico da sua diocese, onde explica o seu caso e, havendo indícios de possibilidade de nulidade, formaliza a petição.

3. Os motivos que podem levar à declaração de nulidade do casamento foram surgindo ao longo dos tempos.
O matrimónio requer um compromisso mútuo de entrega e aceitação de duas pessoas em ordem à procriação e à educação dos filhos.
  • Portanto, se ambos ou um só dos cônjuges exclui esse compromisso de doação íntima ao outro, segundo a palavra de Deus no Génesis: «Já não são dois, mas uma só carne»; ou se de modo algum não quer ter filhos; ou se se reserva o direito de ter amante; ou se quer que o casamento seja temporário – então, possivelmente o casamento foi nulo, porque não terá querido casar-se verdadeiramente, embora tenha realizado a cerimónia ficticiamente.
  • Também, se um dos cônjuges oculta, propositadamente, uma circunstância que vá perturbar gravemente a vida matrimonial – como, por exemplo, ter um filho de relação não conhecida, ou estar dependente da droga –, então o casamento possivelmente é nulo, porque terá havido uma grave deficiência da entrega.
  • Nos últimos tempos, têm-se multiplicado outros casos que podem levar também à declaração de nulidade do casamento. Trata-se, por exemplo, de pessoas com tendên-cias graves de homossexualidade, que podem torná-las incapazes de um comporta-mento matrimonial devido.

4. Actualmente, tem-se difundido a ideia de considerar a vida matrimonial sobretudo como uma vida a dois do casal. Quando esta vida não corre bem, a relação esfria, azeda-se e pode chegar a romper-se. Nesta perspectiva, procura-se a causa no modo de ser do outro cônjuge. Deste modo, pode-se ser levado a atribuir como causa de nulidade do casamento o desconhecimento do outro («não sabia que era assim»), os maus tratos, a pouca dedicação à família (pelo trabalho ou pelas amizades), a infidelidade.
Estas queixas podem ser indícios de causas de nulidade, mas por si não a determinam necessariamente.

5. Pretende-se que o processo matrimonial na primeira instância de julgamento não demore mais de um ano. No entanto, no momento em que se entrega a petição para a declaração de nulidade, os membros do Tribunal encontram-se ocupados com outros processos, pelo que a petição terá de esperar a sua vez. Isto significa que o início do processo pode tardar algum tempo. Para evitar discriminações, segue-se rigorosamente a ordem de entrega da petição no Tribunal.
Apesar do esforço dos membros do Tribunal, o processo depois de iniciado pode demorar mais de um ano, sobretudo quando se requer ouvir o parecer de peritos. Normalmente, é necessária a apelação ao Tribunal de segunda instância, onde se procura que não demore mais de seis meses.

6. O processo matrimonial começa quando o Vigário Judicial nomeia o Tribunal colegial, de três juízes, um dos quais assume o ofício de instruir ou dirigir a causa e no fim será o Relator, propondo a decisão. A petição apresentada por um dos cônjuges é dada a conhecer ao outro cônjuge, para que possa pronunciar-se, aceitando ou discordando da petição ou dos motivos invocados.
Seguidamente, o juiz determina a questão, ou seja, os pontos que devem ser estudados em vista à decisão; e procede-se a ouvir separadamente, primeiro cada um dos cônjuges – as partes –, e depois as testemunhas por eles apresentadas, especialmente os pais, irmãos e outros que tenham conhecimento dos factos na altura do casamento. Os cônjuges podem ser assistidos pelos seus respectivos advogados, que devem ser peritos conhecedores do Direito da Igreja e admitidos pelo Tribunal. Se o caso assim o requerer, a pedido de um dos cônjuges ou por iniciativa do próprio juiz, podem ser ouvidos também peritos para esclarecerem alguma questão médica, etc.
Terminado este período de depoimentos e de provas, o Tribunal facilita todo o processo aos cônjuges e seus advogados, para que cada uma das duas partes apresente alegações em apoio da sua posição. Como o casamento é uma situação de importância na vida da Igreja, o Tribunal confia a defesa da sua validade ao Defensor do Vínculo – oficio análogo ao do Promotor de Justiça nos processos criminais – que acompanha o processo desde o início e se pronuncia depois de recebidas as alegações das partes.
Finalmente, o Tribunal colegial reúne-se para decidir os pontos em questão, concluindo ou não pela nulidade do casamento. A apelação da sentença, por parte de um dos cônjuges ou por decreto do juiz, é feita ao Tribunal de segunda instância.

7. Pelo conhecimento que tenho, julgo que em Portugal os Tribunais eclesiásticos são equilibrados nas suas decisões. Nalguns outros países, ouve-se falar de excessivas declarações de nulidade, ao ponto de a Santa Sé ter chamado a atenção nalgum caso.

8. Na maioria dos casos, as pessoas que introduzem nos Tribunais eclesiásticos a petição para a declaração de nulidade do seu casamento são pessoas que se encontram divorciadas civilmente e desejam estabelecer nova união matrimonial com uma pessoa católica praticante. A declaração de nulidade já permitiria celebrar casamento católico.
Também não deixa de haver algum caso em que a pessoa se sente insatisfeita pelo modo estranho como terminou o seu casamento e deseja o juízo esclarecedor da Igreja para recuperar a paz da sua consciência.

9. Naturalmente, as pessoas que vivem com normalidade o seu casamento, não têm interesse imediato pelas condições de possibilidade de nulidade dos matrimónios; também não estão interessadas as pessoas que, mesmo com dificuldades, querem defender a existência do seu casamento.
De todos os modos, é importante dar a conhecer essas condições, assim como é importante dar a conhecer as condições para que o casamento seja digno e feliz. Caso contrário, ao ventilar-se erroneamente que a Igreja agora já anula os casamentos, podia acontecer que, num momento de crise, um dos cônjuges não se esforçasse em superá-la e, pelo contrário, pensasse logo na solução mais cómoda, que é deixar fracassar, com vista a experimentar nova oportunidade.

10. Como ficou dito, o direito canónico matrimonial foi-se desenvolvendo à medida que foram surgindo os problemas com o casamento e a autoridade eclesiástica – Bispos e Papa – se foi pronunciando sobre a sua solução, a favor ou não da nulidade.
Não são as leis que fazem ou desfazem os casamentos. As leis são dadas posteriormente à vivência na Igreja, para garantir os casamentos válidos e alertar para os casos em que há irregularidades insanáveis. Por isso, as leis devem ir aperfeiçoando-se, sempre em relação com a indissolubilidade do matrimónio sacramental e a natureza ferida do homem, conforme nos ensina a antropologia cristã.
O importante é a capacidade dos juízes eclesiásticos para darem a resposta acertada aos problemas que surgem. Podem fazê-lo com as leis em vigor, usando mais ou menos subtileza. Sabem que defendem o matrimónio cristão, quer quando afirmam a sua validade, quer quando reconhecem as suas irregularidades. Como dizia Bento XVI, «uma solução contra a verdade não é uma solução pastoral».

11. Actualmente, com a evolução da mentalidade contemporânea que penetrou na Igreja, o matrimónio é visto mais como satisfação individual do que como dedicação ao outro. Podia parecer que a resposta da Igreja fosse facilitar o reconhecimento da nulidade do casamento fracassado, para dar aos cônjuges uma nova oportunidade de refazer a vida matrimonial. Aliás é o que vem fazendo a sociedade civil com o divórcio, e as consequências são a multiplicação dos divórcios, o traumatismo dos filhos, a perda de estabilidade da família, a diminuição da natalidade, etc.
Tem-se dito que a actual crise da família é antes uma crise do matrimónio. Parece ter-se perdido o ideal do matrimónio como união íntima de amor e de dedicação sacrificada do homem e da mulher, capaz de resistir à fragilidade humana e aos assaltos do ambiente.

Doutor Miguel Falcão, in Revista Celebração Litúrgica (2008). n. 6, Outubro-Novembro

Texto de colaboração para a elaboração do trabalho publicado pela jornalista Rita Bruno na revista «Família Cristã» (Março de 2008)



TRIBUNAL ECLESIÁSTICO DA GUARDA: email

sábado, janeiro 10, 2009

11 anos depois... a neve pintou de branco a Velosa



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segunda-feira, janeiro 05, 2009

“Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?”

Os Magos do Oriente, antes de chegarem a Jerusalém e baterem à porta de Herodes, já tinham empreendido uma longa viagem, percorrido um caminho difícil, através do árido deserto. Isto, porque tinham sido misteriosamente informados sobre o nascimento do rei dos judeus. Os Magos intuíram que aquele rei dos judeus era diferente de todos os outros reis e que tinha também alguma coisa a ver com eles. Por isso, sentiram-se impelidos a deixar as suas terras e ir ao seu o encontro para o adorarem.
Sabem que se trata de um rei diferente. Pressentem que o seu nascimento na terra de Israel se insere dentro dos desígnios de Deus. Mais, aquele rei é portador de algo de extraordinário para toda a humanidade.
No entanto, ainda não sabem bem em concreto quem Ele é, e muito menos sabem onde está, o lugar onde encontrá-lo.
Herodes, o rei dos judeus, é colhido de surpresa pela pergunta dos Magos. Ele nem sequer sabe que tinha nascido tal rei no seu território. Os reis mandam muito mas não sabem tudo. Eles não sabem nem querem saber o que se passa nas casas dos pobres, muito menos o que acontece nas grutas dos animais. Deste modo, escapam-lhes coisas importantes, ficam à margem de grandes acontecimentos da história. Neste caso, o mais importante nascimento da história da humanidade.
Herodes, perturbado por imaginar que este rei recém-nascido vem pôr em causa o seu lugar, pergunta aos escribas onde, segundo as Escrituras, devia nascer o Messias. Herodes intui que aquele rei dos judeus, que os Magos procuram e que os fez vir de tão longe, é o Messias esperado pelo povo de Israel.
O Messias, segundo o profeta Miqueias, devia nascer na humilde cidade de Belém. Agora, guiados pela palavra de Deus (esta torna-se na verdadeira estrela que os conduz) chegam até Jesus, o rei dos judeus que eles procuravam. Podem vê-lo, adorá-lo e oferecer-lhe os seus presentes.
Depois, radicalmente transformados, voltam à sua terra por outro caminho. No caminho de regresso, a estrela que os ilumina é o próprio Jesus. Na verdade, Jesus é “a luz verdadeira que, ao vir a este mundo, a todo o homem ilumina”.
Jesus revela-se àqueles homens do oriente, homens que não pertenciam ao povo judeu. Deste modo, Jesus prova que Ele veio para todos os povos. Ele não é apenas o rei dos judeus, mas é o Salvador de todos os homens. Deus não exclui ninguém do seu amor, o seu projecto de salvação abrange todos os povos e estende-se a todos os tempos da história.
Através dos Magos, a salvação de Deus começa a chegar a todo o mundo. Através deles, a luz de Cristo começa a chegar aos confins da terra.
“Onde está…?” Afinal quem é este rei dos judeus?
As duas perguntas são indissociáveis. Só quem sabe alguma coisa sobre Jesus é que sente curiosidade em saber mais sobre Ele. Esse procura-o com interesse e perseverança. E só quem o encontra se aproxima da verdade, ficando a saber quem Ele realmente é.
Queres saber onde encontrar hoje Jesus? Queres que Ele faça brilhar em ti a luz da sua verdade e faça sentir em ti o poder do seu amor? Estás mesmo disponível para esse encontro pessoal e real com Jesus, e para as consequentes mudanças que Ele vai exigir de ti? Estás mesmo disposto a mudar de caminho, a fazer de Jesus, da sua palavra e da sua vida, o novo caminho da tua vida?
Se tens estas disposições interiores, então ouve com atenção, porque vou dizer-te onde se encontra Jesus, onde Ele espera por ti, onde Ele está ao teu alcance.
  • Jesus está presente na sua Igreja. Ele prometeu ficar com os seus até ao fim dos tempos.
  • Podes encontrá-lo e escutá-lo no Evangelho proclamado ou na leitura pessoal da Escritura;
  • podes encontrá-lo e recebê-lo na Eucaristia;
  • podes vê-lo e amá-lo nos irmãos que te rodeiam;
  • podes encontrá-lo e oferecer-lhe presentes em que precisa (nos pobres e nos doentes, nos tristes e infelizes, nos que estão sós e abandonados, nos desprotegidos e excluídos).

Se empreenderes esta procura espiritual, se te deres a estes encontros com Jesus, se te deixares tocar por Ele, então descobrirás melhor quem Ele é e como Ele é importante e vantajoso para ti e para a vida do mundo. Então, sentirás um forte desejo, mais, uma necessidade incontida de dares testemunho dele e de O levares até àqueles que ainda O não conhecem. Então, também através de ti, muitos, ou pelo menos alguns, virão para louvar e adorar o Senhor. Assim, continuará a marcha do Senhor até ao coração de todos os homens.
Acreditas o suficiente em Jesus ao ponto de considerares que os outros também têm o direito de O conhecerem e a necessidade de acreditarem nele?

Sentes fascínio por Jesus ao ponto de te sentires impelido a partilhar a tua experiência com aqueles que te rodeiam?

O amor que sentes por Jesus, torna verdadeiramente universal o teu coração?

Acreditas e conheces Jesus ao ponto de o desejares conhecer melhor e de entrar mais na sua intimidade?

A tua vida manifesta Jesus ao ponto de as pessoas o poderem encontrar em ti?

sábado, janeiro 03, 2009

"Nascido de uma mulher"

div align="justify">O Filho de Deus fez-se homem no seio de uma mulher! E Maria é a mulher na qual se realizou esse mistério. Na verdade, ela concebeu e deu à luz o Filho de Deus, Jesus Cristo. Jesus, o Filho que nasce de Maria, é o Filho de Deus feito homem. Sendo Ele verdadeiro Deus como o Pai e sendo uma única pessoa, Maria é, com toda a justiça, “Mãe de Deus”.
Hoje, oitavo dia do Natal e primeiro dia do Ano Novo, celebramos este mistério admirável: a maternidade divina de Maria! Precisamos de silêncio e de recolhimento interiores para entrar neste mistério e nos maravilharmos com Ele: Maria, uma simples mulher, desempenha esta missão tão divina!
A maternidade divina de Maria não a isenta de todas as limitações e dificuldades humanas. A graça de Deus só por si não garante, automaticamente e como por magia, a compreensão de todos os mistérios divinos e a solução de todos os problemas humanos.
Os evangelhos mostram que Maria nem sempre compreende o que se diz de Jesus nem o que Jesus lhe diz. Nessas circunstâncias, ela guarda as palavras e medita-as no seu coração. A graça de Deus ajuda-a na compreensão da verdade mas não dispensa o seu esforço humano.
Os evangelhos também registam algumas das dificuldades que Maria enfrentou enquanto mãe de Jesus. Ela teve de fugir para o Egipto, juntamente com José, para salvar a vida do Filho, pois Herodes queria matá-lo. Experimentou a angústia da perda do Jesus, quando este decidiu ficar em Jerusalém sem nada lhe dizer. A graça de Deus não impediu que Maria tivesse de enfrentar estas e outras adversidades, mas deu-lhe a capacidade de as superar.
Maria viveu a sua maternidade divina na maior simplicidade e humildade, segundo aquela atitude de serviço que assumiu, no momento da Anunciação, diante do Anjo: Eis a escrava do Senhor”. É como serva, serva cheia da graça e do amor de Deus, que Maria vive a sua maternidade divina. Maria não deve ter partilhado com ninguém esta graça. Com muito probabilidade, durante a sua vida terrena, ninguém, para além de Jesus, considerou e honrou Maria como Mãe de Deus.
Mais tarde, a reflexão, feita a partir dos relatos evangélicos, sobre o mistério da Encarnação do Filho de Deus, levou a Igreja, no Concílio de Éfeso (431), a apresentar como verdade de fé a maternidade divina de Maria. Agora, todo o povo cristão a invoca como a Santa Maria, Mãe de Deus, implorando a sua materna intercessão.

“Deus enviou o seu Filho … para nos tornar seus filhos adoptivos”. Deus, em Jesus, faz de nós seus filhos. Mais, envia ao nosso coração o seu Espírito, para nos capacitar a chamá-lo Pai. Graças á generosidade do seu amor, podemos, com toda a legitimidade, chamar a Deus: “Pai-Nosso”. Este facto mostra até que ponto Deus nos ama e como o seu amor atinge o mais íntimo e a totalidade do nosso ser. Faz pensar que Deus queira ser nosso Pai e nos trate efectivamente como seu filhos!
Este pensar e meditar à luz da fé leva-nos a tomar consciência de que Deus é Pai de todos os homens e, consequentemente, todos os homens são nossos irmãos. Como é importante e necessário meditar, longa e profundamente, nesta verdade, tirando e assumindo todas as suas consequências. O amor que Deus Pai partilha com todos os homens torna-os capazes de se amarem uns aos outros como irmãos!
A fraternidade humana e só ela, quando entendida e vivida à luz do amor de Deus Pai, leva cada homem a reconhecer a igualdade de todos os outros homens e a respeitar os seus direitos. A fraternidade humana impele-nos a querer para os outros o que queremos para nós, motiva-nos a fazer aos outros o que queremos que eles nos façam, a tratá-los do mesmo modo que desejamos ser tratados por eles. Numa palavra, a fraternidade humana universal, que brota da comum filiação divina, é o único caminho que garante a justiça e a paz entre os homens.

Hoje, primeiro dia do Novo Ano, a Igreja convida-nos a reflectir e a rezar pela paz. A paz é, antes de mais, um dom, uma bênção de Deus. A bênção que os sacerdotes do Antigo testamento deviam dar ao povo incluía este voto: “O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz”.
Mas a paz na terra exige também o esforço do homem. Jesus, no Sermão da Montanha, proclama: “Felizes os construtores da paz (os pacificadores), porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Os filhos de Deus, precisamente porque filhos de Deus, têm uma maior responsabilidade e uma capacidade acrescida na construção da paz.
Como dissemos antes, a nossa condição de filhos de Deus, quando tomada a sério, impele-nos e ajuda-nos a considerar os outros como iguais a nós, a amá-los e a respeitá-los, com a mesma dedicação e intensidade, como queremos ser respeitados e amados por eles.
O pior inimigo da paz (da convivência harmoniosa entre os homens) está no mais íntimo de nós e da forma mais entranhada: é o nosso egoísmo. O egoísmo leva-nos a considerar que:
  • somos mais importantes e temos mais direitos do que as outras pessoas;
  • a apropriar-nos do que não nos pertence e a não partilhar o que temos a mais;
  • a não reconhecer os nossos erros nem a perdoar a quem nos ofende;
  • o egoísmo cria preconceitos, fundamenta diferenças e justifica desigualdades;
  • cultiva as aparências, alimenta a inveja e fomenta a vaidade;
  • o egoísmo torna-nos cegos em relação às capacidades e qualidades dos outros e, por conseguinte, impede-nos de as apreciar e de beneficiar delas;
  • o egoísmo leva-nos a usar os outros para satisfazermos os nossos interesses e atingirmos os nossos objectivos. O egoísmo tem, por tudo isso, um potencial ilimitado de conflitualidade e de violência.

Ele está na base de todas as discórdias e guerras.
Neste dia, um pouco por toda a parte, proferem-se discursos ou fazem-se homilias sobre a paz, onde se apresentam as soluções ou remédios considerados necessários e eficazes para que a paz efectivamente aconteça. Com muita facilidade e frequência, os protagonistas dessas intervenções caem na tentação de indicar os remédios que os outros devem tomar, dispensando-se de fazerem o que está ao seu alcance e é sua obrigação, em razão dos lugares que ocupam e das funções que exercem. As suas belas palavras são, depois, desmentidas ou desacreditadas pelo tipo de vida que levam.

  • Falar da luta contra a pobreza como o caminho da paz e, ao mesmo tempo, viver e apresentar-se com o esplendor próprio dos ricos e como se fossem deuses, não bate muito certo com a lógica da humildade de Deus!
  • Defender a justiça, na base da igualdade de todos os homens e, depois, manter e defender tantas formas de desigualdade injustificável no seio da própria Igreja, não bate muito certo com a lógica da justiça de Deus!
  • Exortar os homens a abandonar todo o tipo de ódio e de inimizade, de ambição e competitividade desonesta, de rivalidade e inveja, e, depois, manter estruturas na Igreja que suportam e fomentam todas essas realidades negativas e perturbadoras das relações humanas, não bate bem com a lógica do amor de Deus!

As palavras e as sugestões têm o seu lugar, mas o mais importante é o que nós fazemos para que a paz aconteça na nossa vida e ao redor de nós. A nossa luta deve, pois, centrar-se no nosso egoísmo, atendendo a todas as suas manifestações.
O amor de Deus Pai é o único antídoto capaz de erradicar o vírus poderosíssimo do nosso egoísmo. Só este amor paterno de Deus, quando acolhido no nosso coração, nos capacita para amar aqueles que vivem connosco, amá-los como Ele os ama e quer ser amado neles. Só reconhecendo e respeitando os homens como filhos de Deus e nossos irmãos, seremos verdadeiros construtores da paz e, nessa mesma medida, mereceremos ser chamados filhos de Deus.

Presépios na Aldeia