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domingo, fevereiro 06, 2011

"Vós sois a luz do mundo"

Jesus apresentou as bem-aventuranças como o programa que o homem deve seguir para acolher o reino de Deus, para o ajudar a construir na terra e para o receber como herança no Céu. Aqueles que vivem segundo este projecto são, no dizer do próprio Jesus, “sal da terra” e “luz do mundo”, ou seja, ajudam a dar sabor e sentido à vida dos homens.
Jesus é a verdadeira luz do mundo: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12). Jesus é luz porque, com a sua palavra e a sua vida, revela a verdade sobre Deus, o homem, o mundo e a história. Por sua vez, os seus discípulos, na medida em que acreditam em Jesus e se identificam com Ele, irradiam a sua luz diante dos homens. De facto, através das boas obras, eles reflectem a luz de Cristo - a luz da verdade e do amor de Deus. E, nessa mesma medida, tornam Deus visível aos homens.
“Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus”. Os discípulos não devem, por certo, publicitar o bem que fazem, mas, se o realizam, não deixará de ser notado pelos homens e não deixará de os interpelar. Mas quais são, em concreto, essas boas obras que revelam Deus aos homens e os levam a acreditar nele e a louvá-lo?

A primeira leitura dá-nos a resposta. Através do profetas Isaías, Deus diz-nos que o homem é luz e que a sua luz brilha no mundo, quando reparte o pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva a roupa ao que não tem que vestir e não volta as costas ao seu semelhante; quando tira do meio de si a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas.
Estas obras irradiam a luz de Cristo e são luz para os homens porque mostram o rosto de:
  • um Deus que ama os homens e é misericordioso para com eles;
  • um Deus que se torna próximo de cada homem e se mostra interessado em mudar a sorte do pobre, do doente e do oprimido;
  • um Deus que propõe e promove a liberdade e a fraternidade entre os homens;
  • um Deus que quer precisar dos homens para concretizar os seus planos e alcançar os seus objectivos.

Além disso, revelam que a religião do verdadeiro Deus é uma religião que está ao serviço da pessoa humana. Deus interessa-se pelo bem do homem no seu todo e não apenas nem tanto pela sua dimensão religiosa. O que o verdadeiro Deus mais deseja e espera daqueles que nele acreditam é que amem e respeitem o seu semelhante.

O cristão irradia a luz de Cristo:

  • sempre que diz e defende a verdade, apesar de muitas vezes ser mais cómodo e trazer mais proveito calá-la ou colocar-se do lado da mentira;
  • quando respeita e defende a vida humana em todas as suas etapas, remando contra a forte corrente de uma falsa modernidade;
  • quando vive segundo a moral do Evangelho, apesar do relativismo moral vigente na sociedade;
  • quando, sem medo nem vergonha, professa a sua fé e defende os princípios e os valores que lhe são inerentes, mesmo nas circunstâncias mais difíceis e nas questões mais controversas com que é confrontado.

Vivendo assim, os cristãos fazem a diferença, levam os homens a interrogarem-se e a reflectirem, dão-lhes razões válidas e consistentes para acreditarem em Deus. O testemunho de vida dos cristãos constitui o anúncio mais convincente e eficaz do Evangelho de Jesus. A sua coerência de vida é o caminho mais adequado para levar os homens até Deus, a amá-lo e a glorificá-lo como o Pai que está nos Céus.

Os Actos dos Apóstolos confirmam que o testemunho de vida das comunidades cristãs primitivas (tinham um só coração e uma só alma, entre eles tudo era comum, entre eles não havia ninguém necessitado) fazia aumentar todos os dias o número daqueles que abraçavam a fé (Act 2,46-47;4,32-35). Ainda hoje, num mundo em que a palavra está completamente desacreditada, a vida das comunidades cristãs constitui o principal e mais eficaz meio de evangelização. Se falta este testemunho, todas as acções pastorais estão votadas ao fracasso.

sábado, janeiro 29, 2011

"Bem-aventurados os pobres em espírito"

No domingo passado, Jesus dirigiu-nos este convite: “arrependei-vos, porque o reino de Deus está próximo”. Hoje, apresenta-nos o programa desse reino de Deus e, ao mesmo tempo, concretiza em que se deve traduzir o arrependimento que pede às pessoas. Na verdade, através das bem-aventuranças, Jesus indica ao homem as atitudes e os sentimentos que deve ter, o que deve fazer e o modo como deve viver, para acolher o reino de Deus, para o ajudar a construir na terra e para, depois, o receber como herança eterna no Céu.

Para grande surpresa dos ouvintes, Jesus começa por proclamar “Bem-aventurados os pobres em espírito...” Segundo a versão de Mateus, Jesus não se limita a afirmar: “bem-aventurados os pobres”. Para evitar possíveis equívocos, especifica o tipo de pobres que são realmente felizes, aqueles pobres que pertencem efectivamente ao reino de Deus: “os pobres em espírito”.

“Pobre em espírito” é aquele que:

  • se conhece e assume na verdade do que é (a sua grandeza e os seus limites);
  • não confia apenas em si nem se considera como senhor absoluto da sua vida;
  • tem consciência de que não deve a ele próprio o seu início nem depende apenas dele o seu termo;
  • reconhece que sozinho não consegue encontrar resposta para todas as suas questões existenciais nem consegue satisfazer todas as suas necessidades.

Como consequência, é alguém que se sente indigente e necessitado de Deus. Descobre e reconhece que só Deus pode dar sentido e consistência à sua vida. Por isso mesmo, acolhe e aceita Deus como seu Senhor e meta última da sua existência.
Além disso, descobre e reconhece também que precisa dos outros para viver e se realizar como pessoa; sente que precisa deles para amar e ser amado; precisa do que os eles sabem e produzem; precisa de comungar com eles os seus sonhos e projectos e é consciente de que só com a ajuda deles os pode realizar.

Ser “pobre em espírito” implica ainda desprendimento em relação aos bens materiais; não vive em função da riqueza nem lhe entrega o seu coração; dá o primeiro lugar ao reino de Deus, convencido de que tudo o resto se lhe deve subordinar e estar ao seu serviço.

  • Aqueles que assim entendem a sua vida, esses, no seu existir quotidiano, são mansos e humildes, compassivos e misericordiosos, puros e rectos nas suas intenções, solidários e justos, pacíficos e fraternos. Esses consagram a sua vida e estão dispostos a sofrer por causa do reino de Deus.
  • Aqueles que vivem a primeira bem-aventurança, vivem necessariamente todas as outras, pois estas decorrem daquela, isto é, são a sua concretização. Com efeito, o ser pobre em espírito coloca o homem numa justa relação com Deus, com o seu semelhante e com os bens materiais. Quem vive em sintonia com Deus não pode deixar de viver em sintonia com os outros, com os seus sentimentos, as suas aspirações e as suas necessidades. De igual modo, não pode deixar de construir a sociedade humana segundo o plano de Deus.

Acolher o reino de Deus e torná-lo presente no mundo não é tarefa fácil. Aqueles que, seduzidos por Cristo, embarcam neste projecto são perseguidos, insultados e caluniados. A verdade do Evangelho e a justiça que ele reclama exigem uma mudança profunda na vida de cada pessoa e no todo da sociedade.

  • Ora, muitos não suportam que seja questionada a sua vida ou lhes apontem as contradições da mesma.
  • Muitos não suportam que seja questionado o poder que têm e o modo como o exercem, a riqueza que possuem e o modo como a adquirem, os privilégios de que gozam em detrimento do cidadão comum, a hipocrisia moral e religiosa em que vivem.
  • Outros não suportam que alguém lhes mostre que Deus é muito diferente do modo como eles o imaginam e querem que seja.

Esses tudo farão para desacreditar ou fazer calar os anunciadores do Evangelho - os servidores do reino de Deus.

O evangelista Mateus diz-nos que Jesus só começou a falar depois dos discípulos se terem aproximado dele. Estes são os principais destinatários do discurso de Jesus e eles têm consciência disso. Aproximam-se de Jesus, querem escutá-lo com atenção, olhando-O nos olhos e deixando-se olhar por Ele. Só assim é possível entrar em sintonia com Aquele que fala e, nessa medida, captar, para além das palavras, o mistério da mensagem que anuncia e o alcance do projecto de vida que lhes propõe.
Também nós, só com essa mesma atitude de discípulos, poderemos captar a beleza do reino de Deus e aceitar o desafio de fazer dele o sonho da nossa vida, investir ao seu serviço os nossos talentos e sofrer por causa dele.

Pe. Martins in Jornal "A Guarda"

sábado, janeiro 22, 2011

Os preferidos de Deus

Depois de ter baptizado Jesus e presenciado a manifestação de Deus, João sabe que chegou ao termo a sua missão. Como último acto da mesma, confessa que Jesus é o Filho de Deus (Jo 1,34) e revela que é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”(Jo 1,29.36), ou seja, manifesta aos judeus e, sobretudo, aos seus discípulos a identidade e a missão de Jesus. Deste modo, indica-lhes que, a partir daquele momento, já não tem sentido continuar com ele. Pelo contrário, devem olhar apenas para Jesus e segui-lo unicamente a Ele. João desaparece da cena pública (foi preso) e Jesus começa a anunciar o reino de Deus na Galileia.
É curioso que Jesus tenha dado início à sua pregação na região da Galileia, conhecida, desde o tempo de Isaías, como “a Galileia dos gentios”. A Galileia, embora fazendo parte da Terra prometida, era apelidada de terra dos gentios porque, desde o séc. VIII a. C., eram muitos os não judeus que habitavam naquela região.
Ao começar por aí, Jesus mostra que vem para todos os povos (e não apenas para o povo de Israel) e que Deus quer salvar todos os homens (e não apenas os judeus). Além disso, manifesta também que, embora vindo para todos, dá especial atenção aos que eram olhados com desdém e tratados com desprezo pela sociedade. Esses são os preferidos de Deus.
Jesus, anunciando a proximidade do reino de Deus, cumpre a profecia de Isaías: uma grande luz brilha e ilumina os homens e mulheres que andavam nas trevas. O reino de Deus é o mundo novo que Deus sonhou para os homem, um mundo segundo a medida do seu amor por eles. Um mundo novo que reclama justiça para os pobres e liberdade para os oprimidos; que é verdade para quantos procuram o sentido da vida e perdão misericordioso de Deus para os homens pecadores (cf Lc 4,18-19).
Os que andavam nas trevas eram, antes de mais:
  • aqueles que não viam claro o sentido da vida e não tinham consciência da sua dignidade;
  • aqueles que eram vítimas das injustiças e arbitrariedades dos senhores deste mundo e que, por isso mesmo, não tinham reconhecido o seu lugar na sociedade;
  • eram também aqueles que, desconhecendo a verdade de Deus, viviam enganados e esmagados pelas religiões dos homens. E, como é óbvio, na origem de todas estas formas de trevas está o pecado do homem.

O reino de Deus, para se tornar realidade no mundo dos homens, exige que estes o acolham na sua vida e colaborem na sua construção. Nesse sentido, Jesus exorta: “arrependei-vos”.

  1. Em primeiro lugar, o homem é convidado a confrontar a sua vida com a proposta de vida que Jesus lhe faz, de modo a descobrir a discrepância que existe entre elas.
  2. Depois, Jesus convida o homem a converter-se a Deus, ou seja, a conformar a sua mente e o seu coração com a verdade e o amor de Deus. Então, o homem voltará a pertencer plenamente a Deus e viverá em plena sintonia e comunhão com Ele. O reino de Deus começa a acontecer no coração do homem.
  3. Só depois, o homem, assim renovado interiormente, poderá fazer crescer o reino de Deus na sociedade, isto é, construir a sociedade em conformidade com os desígnios de Deus, segundo os valores da “verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz”.

O Evangelho deste domingo relata-nos também o chamamento dos primeiros quatro discípulos de Jesus. Antes de mais, importa salientar o facto que Jesus tenha chamado os seus discípulos logo no início do seu ministério. Procedendo desse modo, Jesus mostra como considera importante e necessário que eles O acompanhem ao longo de toda a sua missão entre os homens. Esse é o tempo que os apóstolos têm para conhecer Jesus, a sua vida e missão. O tempo do seu ministério público indica a duração e o âmbito da formação dos apóstolos.
Em segundo lugar, impressiona-nos a resposta pronta e positiva daqueles quatro pescadores da Galileia. A um simples convite “Segui-me”, acompanhado de uma promessa cujo alcance não devem ter compreendido muito bem: “farei de vós pescadores de homens”, eles, sem perderem tempo a fazer cálculos e sem terem exigido nada em troca, decidiram arriscar por completo as suas vidas: deixaram tudo e seguiram Jesus.

“Arrependei-vos” e “segui-me” são dois convites que Jesus continua a dirigir aos homens de todos os tempos, também a cada um de nós. Os dois apelos são, em certa medida, inseparáveis. Na verdade, o arrependimento, a renúncia ao egoísmo e ao pecado que dele nasce, a conversão a Deus, só acontecem quando o homem se encontra com Jesus e aceita fazer dele o caminho da sua vida. Por outras palavras, o homem só adere efectivamente ao reino de Deus e lhe consagra toda a sua vida, quando descobre e aceita que Jesus vale mais do que todos os seus bens, as suas verdades, os seus pontos de vista, as suas seguranças humanas; quando descobre e aceita que Ele é o tesouro ao qual vale a pena subordinar tudo (os bens e a própria vida).

Pe. Martins in Jornal "A Guarda"

sábado, janeiro 15, 2011

"O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (2º Dom)

João foi testemunha da manifestação de Deus por ocasião do Baptismo de Jesus. Agora, ele confirma que viu o Espírito Santo descer do Céu e repousar sobre Jesus. E revela que este facto permitiu-lhe reconhecê-lo como o enviado de Deus - Aquele que baptizará no Espírito Santo. Além disso, João também confirma que ouviu a voz do Pai: “eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus”. Tendo visto o Espírito Santo e ouvido Deus, João descobriu e acreditou na verdadeira identidade de Jesus e, por sua vez, manifesta-a aos seus ouvintes, com a força do testemunho.
João vai mais longe na revelação de Jesus ao apresentá-lo como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Especifica que a missão do Filho de Deus é libertar o homem do pecado.
A imagem do cordeiro, com que João se refere a Jesus, inspira-se no cordeiro pascal dos judeus. Segundo o livro do Êxodo, antes da saída do Egipto e como preparação da mesma, Deus ordenou aos israelitas que imolassem um cordeiro e com o seu sangue pintassem as portas das suas respectivas casas, para que o Anjo Exterminador, ao passar pela terra do Egipto, poupasse os primogénitos dos judeus Deste modo, o cordeiro, que, ainda hoje, faz parte da ementa da ceia pascal judaica, simboliza a salvação e a libertação do povo, graças à intervenção de Deus. O cordeiro morre, mas o seu sangue serve de sinal para ao Anjo, e assim, graças a ele, salvam-se muitas pessoas.
Jesus é Aquele que morre, derramando o seu sangue na cruz, para salvar todos os homens. Com a doação da sua vida, Ele redime e liberta o homem do pecado, que é a fonte e a causa de toda a forma de escravidão. Nessa medida, Ele é o verdadeiro Cordeiro pascal, ou seja, Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Na verdade, o pecado oprime o homem e faz dele o opressor do seu semelhante. O homem, quando recusa dar a Deus o primeiro lugar na sua vida, ou seja, na medida em que não aceita depender de Deus, vê tudo e todos em função de si mesmo: da sua ambição e ganância, das suas paixões e conveniências, dos seus interesses e gostos pessoais.
  • Assim, o homem procura o poder, passando por cima dos direitos dos outros, e exerce-o sobrepondo-se e impondo-se a eles;
  • procura a riqueza sem justiça e usa-a sem qualquer sentido de partilha;
  • procura o prazer sem quaisquer limites, usando e tratando as pessoas como coisas;
  • considera que as suas “verdades” valem mais do que as verdades dos outros e que só tem direitos e não tem deveres.

Este modo de se entender e de entender os outros não só perturba gravemente as relações interpessoais como gera formas terríveis de opressão no seio da sociedade.
Pela oferta da sua vida, acto supremo do amor de Deus pelos homens, Jesus tira o pecado do mundo, vence o pecado do homem. No entanto, esta libertação só acontece efectivamente na vida de cada homem na medida em que este acredita em Jesus, recebe o sacramento do baptismo e vive realmente segundo a verdade e o amor de Deus. Com efeito, só a verdade revelada por Jesus, indissociável do amor de Deus que Ele mesmo testemunhou, torna o homem verdadeiramente livre: “a verdade vos tornará livres” (Jo 8,32).
Jesus quer “tirar o nosso pecado, vencer o nosso egoísmo, devolver-nos a nossa dignidade e tornar-nos plenamente livres", para que Deus e os homens possam ocupar o lugar que merecem no nosso coração. Ele quer também tirar o pecado do mundo, ou seja, erradicar todas as formas de opressão que sobrevivem e se propagam na sociedade contemporânea e que tão negativamente afectam a vida dos homens:

  • a ditadura do relativismo, tão defendida e generalizada nos nossos tempos, que põe em causa valores e direitos fundamentais da pessoa, como a vida, o casamento e a família;
  • a ditadura do poder económico que, todos os dias, cria mais pobres e faz aumentar a miséria no mundo;
  • a ditadura do laicismo negativo dos Estados que, em nome de uma falsa liberdade, não respeita a liberdade religiosa dos cidadãos;
  • a ditadura da indiferença religiosa que condena os homens à mediocridade de uma vida sem sentido e sem esperança.

Jesus quer e pode tirar o pecado do mundo, mas não o faz sem o nosso consentimento e a nossa colaboração. O homem não pode ser livre e salvar-se sem Jesus, mas Jesus não o pode salvar e fazer livre à força!

Pe. Martins in Jornal "A Guarda"

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Jesus, como tantos outros judeus e como se em nada fosse diferente deles, vai ao encontro de João para ser baptizado por ele. João, no deserto da Judeia, exortava todos à conversão (Mt 3,2), e muitos “eram por ele baptizados no Jordão, confessando os seus pecados” (Mt 3,6). Jesus, apesar de não ter pecados para confessar e, consequentemente, não ter necessidade de arrependimento e de conversão, aproxima-se de João e sujeita-se ao rito do baptismo. Agindo deste modo, põe em evidência a sua condição humana e, ao mesmo tempo, manifesta a sua solidariedade e proximidade com os pecadores – algo que caracterizará toda a sua vida e missão.
João tem plena consciência da superioridade de Jesus, da sua missão e do seu baptismo. Antes esclarecera: “eu baptizo-vos em água, para vos mover à conversão … Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo” (Mt 3,11). Por isso mesmo, João considera que é ele que tem necessidade de ser baptizado por Jesus e não o contrário. Mas Jesus faz-lhe ver que é necessário e conveniente que se cumpra toda a justiça, ou seja, que se realizem, também neste caso, os desígnios de Deus. A lógica de Deus é diferente da lógica dos homens. O Messias, contrariamente ao que muitos judeus esperavam, não vem com esplendor e força para libertar o povo, mas sim na humildade da natureza humana para salvar os homens pecadores.
  • O Baptismo de Jesus é o ponto de partida do seu ministério público. Sendo um momento tão relevante, Deus Pai e o Espírito Santo fazem questão de marcar presença e de interagirem com Jesus. Deus reconhece e apresenta Jesus como o seu Filho muito amado, o Filho no qual Ele se revê. Jesus, ao longo da sua missão e como parte da mesma, revelará Deus como o Pai de todos os homens e fará dos homens filhos de Deus. Deus que, no Baptismo de Jesus, se mostra como uma família, quer, através de Jesus, integrar todos os homens na sua família, admitindo-os à plena amizade e comunhão com Ele!
  • Por sua vez, o Espírito Santo desce sobre Jesus, ungindo-O e consagrando-O para a missão. Na sinagoga de Nazaré, Jesus, apropriando-se de palavras do profeta Isaías, assumirá: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova” (Lc 4,18). Por sua vez, os apóstolos manifestam a mesma convicção ao afirmarem: “Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem” (Act 10,38). A missão de Jesus é indissociável do Espírito Santo. Além disso, a presença do Espírito nesta ocasião serve também para indicar que com Jesus terá início um novo baptismo. Só o baptismo no Espírito Santo tem a capacidade de regenerar e recriar o homem, de o renovar e santificar, fazendo dele filho de Deus.

Este episódio do baptismo revela a identidade de Jesus: verdadeiro homem e, ao mesmo tempo, verdadeiro Filho de Deus. No entanto, podemos supor que, para além de João, não houve outras testemunhas da manifestação de Deus ou pelo menos testemunhas que tenham captado o seu alcance.
Será Jesus, ao longo da sua missão e sem dizer antecipadamente quem é, a revelar progressivamente a sua identidade, através do anúncio do reino de Deus, das obras extraordinárias que realiza, do modo como se relaciona com as pessoas e, sobretudo, no mistério da sua morte e ressurreição. Desse modo, alguns homens e mulheres foram descobrindo e acreditando que Jesus era o Messias, o Filho de Deus, o Salvador dos homens.
Nós já sabemos quem é Jesus. Mas o nosso conhecimento é, de um modo geral, demasiado teórico, tendo como base o que ouvimos dizer aos outros ou lemos nos livros. Também confessamos que Jesus é o Filho de Deus e o nosso Salvador. No entanto, a nossa fé é, quase sempre, pouco sentida, não resulta de um encontro pessoal com Jesus, não se faz visível na nossa vida.
Precisamos fazer com Jesus o percurso espiritual que vai do seu Baptismo até à sua Ascensão ao Céu, seguindo, ao longo deste ano litúrgico, o Evangelho de Mateus, em sintonia com a proposta pastoral da nossa diocese. E devemos fazer esta caminhada espiritual sentindo-nos interlocutores, destinatários, ouvintes e testemunhas de Jesus. Devemos deixar-nos questionar e interpelar por Ele, acolhendo a sua palavra e meditando-a no nosso coração, como Maria. Só assim, Jesus iluminará e transformará a nossa vida.

Pe. Martins in Jornal "A Guarda"

segunda-feira, abril 05, 2010

Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo?

Ao romper da manhã de Páscoa, dois homens, de vestes resplandecentes, tecidas com fios de luz e de vida, oferecem a meia dúzia de mulheres, perplexas e amedrontadas, a palavra última de Deus, sobre a cruz e a morte de Jesus: Não está aqui! Ressuscitou! Esta é a palavra-chave, que lhes abre os olhos, para o sentido oculto de uma presença nova, que irrompe do sepulcro vazio!
  • Não está aqui! Ressuscitou! Ressuscitado, Jesus não é mais um corpo morto! É um corpo glorificado!
  • Não está aqui! Ressuscitou! Ressuscitado, Jesus não está mais sujeito à lei da morte. Venceu-a no seu próprio campo!

  • Não está aqui! Ressuscitou! Ressuscitado, Jesus não é um sobrevivente do grande terramoto. É o princípio de uma nova criação!

  • Não está aqui! Ressuscitou! Ressuscitado, Jesus não é um cadáver reanimado! É o Filho de Deus, exaltado, na glória do Pai.
  • Não está aqui! Ressuscitou! Ressuscitado, Jesus não dá um passo atrás, mas um passo à frente. Não recupera a vida perdida. Conquista a vida nova. A sua existência não é uma vida consumida inutilmente e perdida na poeira do passado, mas uma vida inteira e consumada, realizada e finalizada na plenitude do amor de Deus!
  • Não está aqui! Ressuscitou! Ressuscitado, Jesus não é alguém que «volta a estar vivo». É simplesmente o Vivente! Aquele que já não pode mais morrer! Aquele que está vivo e vive para sempre!

Não está aqui! Ressuscitou! Numa palavra, aqueles mensageiros quiseram dizer: Jesus não está mais a um palmo de terra das vossas mãos! Ele Vai sempre adiante de vós, para a Galileia! Não O podeis jamais tocar, nem deter neste mundo (cf. Jo.20,17). Só O podeis alcançar, seguindo-O e subindo com Ele, para o Pai! Vós, mulheres, que viestes com Jesus da Galileia, tereis de partir, de novo, para O ver (cf. Mc 16, 6). E encontrá-lo-eis, no caminho, em missão! Nós sabemos que, doravante, Jesus está vivo, e que a sua vida se assinala no mundo de hoje pela vida dos cristãos, de cada um de nós, precisamente. E há muitas situações, à nossa volta, que esperam ainda uma tal madrugada pascal, que irrompa em alegria, novidade e esperança e paz, na certeza de que o Ressuscitado está vivo e vive connosco, para sempre!

A Ressurreição é vida nova em exaltação, é vida plena, em abundância, é vida eterna, em exultação! Celebremos por isso a nossa Páscoa, com Vida!

  • Uma Páscoa com Vida é uma Páscoa celebrada, à mesa da Eucaristia, com “os pães ázimos da pureza e da verdade” (I Cor.5,9)! E que, por isso mesmo, é uma Páscoa que nos convida a voltar a Jerusalém, a ir ao encontro dos outros discípulos, a regressar à comunhão com a Igreja confiada por Cristo aos apóstolos, testemunhas da sua Ressurreição!
  • Uma Páscoa com Vida, é uma Páscoa anunciada a todos, com a alegria de quem sabe ter a sua vida escondida, com Cristo, em Deus (Col.3,3), sem que ninguém mais a possa arrebatar! Por isso mesmo é uma Páscoa que nos convida a uma alegria partilhada!
  • Uma Páscoa, com vida, é uma Páscoa aberta à esperança e à confiança na vida! A vitória de Cristo não aconteceu fora da vida que nos atinge, entre alegrias e dores, esperanças e quase desesperos. Bem pelo contrário, foi bem dentro da nossa condição, que Cristo assumiu até ao fim, que a morte foi repassada pela sua caridade infinda, que a venceu e ofereceu. De modo que uma Páscoa com Vida, convida-nos a viver em esperança! Pese embora as dificuldades económicas e sociais do país, com estatísticas e previsões tão negativas, a Páscoa faz-nos crer e esperar que Deus sempre irrompe no meio das crises, com sinais de novidade e com a surpresa do seu próprio mistério de amor! Cristo não ressuscitou para desaparecer, mas convida-nos a intensificar a sua presença entre nós e a animar a nossa esperança numa vida nova, no futuro do seu Reino.
  • Uma Páscoa com vida é uma Páscoa intensamente vivida, em gestos largos de novidade, de criatividade, de ousadia! Sendo por isso mesmo, uma Páscoa que nos convida a ir e a partir em missão. Porque a Ressurreição é vida em movimento, é envio permanente. O encontro com Jesus Ressuscitado abre, espontaneamente, às mulheres, aos discípulos, aos apóstolos, o caminho da missão.

domingo, janeiro 17, 2010

"Ele os criou homem e mulher (macho e fêmea)"...

Jesus também foi convidado para o casamento. E, neste casamento, Jesus realiza o seu primeiro milagre, ou seja, manifesta pela primeira vez a sua glória, o seu poder divino. Este facto exprime bem a importância e a primazia do casamento aos olhos de Deus.
O casamento entre um homem e uma mulher e a família que com ele nasce correspondem a um projecto de Deus – o projecto que melhor garante a realização e a felicidade da pessoa humana bem como o futuro do mundo e da história.
Na primeira página da Bíblia, lemos: “Deus criou o ser humano à sua imagem; Ele os criou homem e mulher (macho e fêmea)”. Esta diferença que os atrai e complementa torna-os capazes de crescerem e se multiplicarem, encherem e dominarem a terra.
Num outro relato, também do livro do Génesis, é-nos dito que, pouco após ter criado o homem, Deus intuiu e desabafou: “Não é conveniente que o homem esteja só”. Sozinho, o homem sente-se inacabado, insatisfeito e infeliz. Para vencer a solidão do homem, para o homem se tornar completo, Deus cria e apresenta-lhe a mulher. E é tal o fascínio que a mulher exerce no homem que este se dispõe a deixar tudo, até o pai e mãe, para se unir a ela e com ela constituir uma comunidade de amor e de vida!

O casamento e a família são anteriores aos estados e às religiões. Em todas as sociedades e desde sempre, o casamento foi entendido como um projecto de vida comum assumido por um homem e uma mulher. De resto, a própria anatomia ou morfologia corporal apontam, de um modo inequívoco, nesse sentido.
Nos nossos tempos, alguns pretensos iluminados defendem o casamento homossexual em nome da liberdade e da igualdade. Esses iluminados parecem não saber ou gostariam que nós não soubéssemos que, antes de mais, há limites à verdadeira liberdade.
Quando me encontro numa encruzilhada de caminhos, eu sou livre de escolher aquele pelo qual quero seguir. Esta escolha, que constitui um exercício da minha liberdade, implica que eu aceite as características e os condicionalismos próprios desse caminho. Além disso, escolhendo aquele caminho, renuncio a seguir pelos outros, pois não posso pretender, em nome de uma mal entendida liberdade, seguir por todos ao mesmo tempo.
O mesmo vale em relação às opções de vida que fazemos ou decisões que tomamos. A liberdade que nos permite optar ou decidir neste ou naquele sentido leva-nos a renunciar às outras alternativas. Não se pode invocar a liberdade para reclamar uma coisa e, ao mesmo tempo, o seu contrário.
Por sua vez, a verdadeira igualdade só existe quando se respeitam e salvaguardam as diferenças. Não se pode falar de igualdade, quando se pretende tratar como igual aquilo que é realmente diferente. Caso contrário, nem se respeita a igualdade do que é igual nem a igualdade do que é diferente.
Assim, quem escolhe, no uso da sua liberdade, viver com uma pessoa do mesmo sexo, não pode pretender que a sua opção de vida seja considerada igual à daquele que escolhe viver com uma pessoa de sexo diferente. Ele pode reivindicar o direito a viver desse modo. E pode ter o direito a que seja respeitada a sua opção. O que ele não pode exigir é que a isso se chame casamento. Ao seguir por aquele caminho, que ele considera o melhor e o mais adequado para si, excluiu o outro caminho, o do casamento.
Insistir no casamento para os homossexuais, argumentando que se trata de um direito e de uma questão de igualdade, seria como alguém que inventa um novo pastel e querer registá-lo com o nome de um que já existe antes (por exemplo, pastel de Belém), argumentando que alguns dos seus ingredientes são os mesmos, mas esquecendo que outros elementos são manifestamente diferentes! O novo pastel pode até ser muito bom e ter muitos apreciadores. No entanto, deve ser registado com outro nome, em nome da liberdade, da igualdade e dos direitos dos outros! Algo de semelhante deve acontecer com as uniões homossexuais. Só assim se respeitará verdadeiramente, a liberdade, a igualdade e os direitos de todos – dos homossexuais e dos heterossexuais.

Quando se pretende contradizer a lógica do criador, quando se “atenta contra o fundamento biológico da diferença entre os sexos” (Bento XVI), todas as barbaridades são possíveis e, para aqueles a quem convêm, todas se afiguram como um direito e um sinal de modernidade. Trata-se, porém, de uma modernidade que afectará e comprometerá gravemente o futuro da sociedade.
Aqueles que mandam legislam contra o casamento e a família porque, muitos deles, não foram capazes de manter um casamento e uma família estáveis. Aprovando e facilitando o divórcio dão cobertura legal aos seus fracassos, para que passem a ser considerados como coisas normais e boas! Ou então legislam contra o casamento e a família para agradarem a certos grupos de pressão dos quais recebem, como contrapartida, votos e apoio político.
Nestes homens iluminados - mais arrogantes do que iluminados - a modernidade está bem casada com a falta de coerência e de honestidade!
Quem manda, se investisse mais no apoio à família e defendesse os valores que lhe são inerentes, não precisaria de investir tanto para tentar resolver os problemas sociais gerados pela crise da família (insucesso escolar, distúrbios psicológicos, toxicodependência, violência e criminalidade). Os senhores iluminados, se fosse tão iluminados como querem fazer crer, já teriam dado conta disso. Mas eles não querem dar-se conta, até porque lhes faltaria a humildade para o reconhecerem!

Jesus também foi convidado para o casamento.

  • Hoje, quem é que realmente convida e quer Jesus no seu casamento?
  • Mesmo aqueles que vão à Igreja no dia do seu casamento, quantos vão para se encontrarem efectivamente com Jesus e para o levarem de volta para as suas casas e para as suas vidas?
  • Mesmo entre os cristãos ditos praticantes, quantos estão dispostos a viver o seu casamento e a construir a sua família, seguindo o conselho de Maria: “Fazei tudo o que Ele vos disser?”
  • Quantos dão a Jesus a oportunidade de realizar milagres em suas casas, ou seja, de os iluminar com a sua palavra e os enriquecer com graças divinas?
  • Quem alimenta e fortalece o amor conjugal com o Vinho bom da Eucaristia?

Não esqueçamos: o nosso melhor bem é a família e esta é o melhor dom que temos para oferecer à sociedade! Ámen.

sexta-feira, janeiro 01, 2010

"Felizes os construtores da paz, porque é deles o Reino dos Céus"

No início de mais um ano, somos, normalmente, pródigos nos votos de “Feliz Ano Novo”, de um novo ano com saúde e paz.
Também somos generosos nos sonhos para o nosso futuro!
É bom e simpático formular tais votos.
Faz-nos bem sonhar um mundo melhor!
Mas também devemos pensar no que podemos fazer para que os votos e os sonhos se tornem realidade.
- Que fizemos ao longo do ano que agora finda, que dê credibilidade e consistência aos nossos votos e aos nossos sonhos, e que nos permita acreditar que o novo ano poderá ser real-mente melhor?
- Que tempo e que atenção demos a Deus e à comunidade cristã, à família e aos vizinhos?
- Qual foi o grau de partilha da nossa vida e dos nossos bens em relação àqueles que, de perto ou de longe, nos interpelaram com as suas necessidades e os seus problemas?
- E em relação ao futuro, que investimentos estamos dispostos a fazer na linha da verdade e do amor, da tolerância e do perdão, da solidariedade e da justiça, para vencermos o nosso egoísmo, a nossa indiferença, o nosso comodismo e a nossa mediocridade?
- Fazemos algum projecto e estamos dispostos a cumpri-lo, para sermos cristãos e cidadãos mais conscientes e comprometidos na vida da Igreja e da sociedade, durante o ano de 2010?
O mundo não é melhor por falta de boas intenções,
belas palavras e promessas de sonho.
O que falta são as boas obras e o compromisso da vida!
  • Se queres que este novo ano seja realmente um ano novo e um tempo de paz, não fiques à espera que os outros façam tudo ou que dêem eles o primeiro passo. Pelo contrário, faz o que está ao teu alcance e é tua missão fazer, investindo nessa causa todos os talentos que recebeste de Deus. Se não fazes a tua parte, mesmo que a paz aconteça à tua volta, nunca chegarás a saboreá-la verdadeiramente.
  • Se sinceramente queres a paz, volta o teu coração e a tua mente para Deus, esvazia-te do teu egoísmo e abate o teu orgulho, renuncia à tua ambição e desiste da tua ganância, aceita a tua fragilidade e reconhece os teu erros, toma consciência de que precisas de Deus e de que só com Ele serás plenamente livre e feliz. Sem a conversão do homem a Deus não é possível a paz, não é possível experimentar e saborear a paz.

Se queres a paz, ama os teu inimigos, perdoa a quem te ofende, faz bem a quem te prejudica, abençoa quem diz mal de ti, reza por aqueles que te fazem sofrer, partilha com todos a tua vida, a riqueza do teu coração, ama como queres ser amado.

Sem amor não é possível obter e saborear a paz.

  • Se queres a paz, “não ambiciones grandezas nem coisas superiores a ti”; não procures subir na vida e chegar mais longe do que os outros, passando por cima deles, desvalorizando as suas qualidades e desprezando o seu valor; não exijas que os outros vivam em função de ti e subordinem os seus aos teus interesses. Pelo contrário, coloca-te ao seu serviço, consciente de que o mais importante aos olhos de Deus é o que serve mais e se faz servo de todos. Sem humildade e espírito de serviço não é possível conquistar e saborear a paz.
  • Se queres a paz, “tem fome e sede de justiça”; reparte o que tens com quem precisa e não te apropries daquilo que não te pertence; coloca-te do lado dos mais fracos e defende os seus direitos, começando por cumprir os teus deveres para com eles; luta pela justiça, começando por ser justo no que dizes e no que fazes bem como nas tuas relações familiares e sociais. Sem justiça não é possível alcançar e saborear a paz.
  • Se queres a paz, constrói a tua família sobre a rocha firme da palavra de Deus; vive com fidelidade e alegria o amor conjugal e ama os teus filhos mais do que a ti mesmo; educa os teus filhos na verdade e no amor de Deus e faz da tua casa uma escola de valores humanos e espirituais, consciente de que os teus filhos são também cidadãos do mundo; na procura da tua felicidade pessoal nunca comprometas nem sacrifiques o bem e a felicidade da tua família, sobretudo dos teus filhos. Sem a paz nas famílias não é possível atingir e saborear a paz.

terça-feira, dezembro 29, 2009

Educar os filhos sem Deus é condená-los a uma vida sem sentido e sem esperança!

Os pais no dia do seu casamento (aqueles que se casaram pela Igreja ou seja, aqueles que celebraram o sacramento do matrimónio) e no dia do Baptismo dos filhos comprometeram-se a educá-los na fé, segundo a lei de Deus e da Igreja. Serão os pais fiéis ao compromisso assumido? E terão consciência de que na fidelidade a esse compromisso manifestam o seu grande amor (ou a falta dele) aos seus filhos?
Os pais conhecem com verdade Jesus de modo a podê-lo dar a conhecer com persuasão aos seus filhos?
  • Acreditam efectivamente nele de modo que lhes possam transmitir a fé com convicção?
  • Vivem com coerência a sua fé de modo a serem autênticas testemunhas para eles?
  • Rezam regularmente em família de modo a que os filhos possam aprender a rezar com eles?
  • Mandam os filhos à catequese e manifestam interesse necessário pelo seu aproveitamento?
  • Acompanham-nos na celebração da Eucaristia dominical de modo a que os filhos se insiram na vida da comunidade cristã?

    Educar os filhos sem Deus é condená-los a uma vida sem sentido e sem esperança.

Quando falta o sentido da vida e a esperança, os jovens, com facilidade e muita frequência, enveredam por caminhos perigosos, em que arruínam a sua vida, comprometem o seu futuro e roubam a paz aos seus próprios pais.

Quando chegam a estas situações, os pais, normalmente, culpam a sociedade. E, de facto, a sociedade, com os contra valores que propõe e defende, empurra e facilita nesse sentido. No entanto, devemos reconhecer que, quase sempre, os pais são os principais responsáveis. E são também os que pagam mais caro por isso.

Deus está definitivamente excluído da vida de muitas famílias e, consequentemente, a fé não é uma componente que interesse no processo educativo familiar. Por sua vez, o êxito da educação é avaliado segundo critérios pouco abrangentes.

  • Alguns pais consideram que estão a educar ou educaram bem, porque os seus filhos têm sucesso nos estudos ou nas actividades e iniciativas em que se envolvem.
  • Outros argumentam que nunca ninguém se chegou ao pé deles a fazer queixa dos filhos. Pudera, quais são os educadores ou os vizinhos que estão para arranjar problemas e conflitos com os pais?
  • Outros ainda que os filhos são muito amorosos e conseguem fazer tudo o que querem deles. Pudera, a maior parte dos pais fazem tudo e mais alguma coisa aos filhos para não os contrariarem nem terem chatices com eles!

Desde a minha perspectiva – e penso que é correcta e legítima - os pais só começam a saber se estão a educar bem os filhos, quando estes começam a fazer algumas renúncias ou algum sacrifício por eles. E só o sabem com certeza, quando os filhos, já adultos, os tomam a seu cuidado, na doença e na velhice. Sim, só no ocaso da vida, os pais ficam a saber se investiram bem na educação dos seus filhos.
Sem Deus, sem a luz da fé e a força do amor cristão, é difícil que os filhos se sintam disponíveis para retribuir aos pais o bem que estes lhes fizeram. Mas se os pais nada ou pouco fizeram para lhes transmitirem estes dons (da fé e da vida cristã), então também pouco ou nada podem esperar dos filhos quando deles precisarem! É o que está a acontecer a muitos pais. E é o que vai a acontecer à maioria.

Família, não tenhas vergonha nem consideres perda de tempo rezar em casa ou celebrar a fé com toda a comunidade cristã, na Eucaristia dominical!

Família, deixa que Deus te ajude a concretizar os teus sonhos e a realizar a tua missão!

Família, toma consciência de que, se és verdadeira família, tu és imagem de Deus e revelação do seu amor! Descobre e vive a grandeza do que és e a beleza da tua missão no mundo!

Família, nunca esqueças que os filhos são o maior dom de Deus e são a tua maior riqueza e, por sua vez, são o melhor dom que tens para dar à sociedade.
Família, tu precisas de ser família e não esqueças que em ti está o futuro da humanidade!
Ámen.

domingo, novembro 22, 2009

"Vim a este mundo para dar testemunho da Verdade"

Jesus veio ao mundo dos homens para dar testemunho da verdade de Deus. A verdade de Deus é o amor, pois “Deus é amor”. Sim, Jesus veio a este mundo revelar a verdade do coração de Deus, testemunhar quanto Ele ama os homens e desvendar os seus desígnios a respeito do mundo e da história. O Deus amor sonhou e ama cada homem como seu filho e com todos os homens sonhou e quer formar uma única família.
“Vim para dar testemunho da verdade”:
  • A verdade de que Deus é Pai e ama imensamente o homem e que, por conseguinte, cada homem deve amá-lo com todo o seu coração, deixando “que Ele seja Deus na sua vida”. Dar a Deus a liberdade de ser Deus na sua vida, de manifestar nele todas as potencialidades do seu amor! Caso contrário, o homem não poderá experimentar a grandeza de Deus e nunca O chegará a conhecer verdadeiramente.
  • A verdade de que cada homem é um irmão e que, por isso mesmo, cada um deve amar o seu semelhante como a si mesmo, vendo nele um filho de Deus. Este amor fraterno é, antes de mais, doação e abertura do nosso coração e da nossa vida aos outros filhos de Deus. Depois, amor ao próximo é verdade e autenticidade, humildade e mansidão, justiça e solidariedade, misericórdia e perdão, transparência e pureza de coração e de intenções, unidade e paz.

Jesus, dando testemunho da verdade, torna possível o mundo novo - um mundo que corresponde aos sonhos de Deus e às aspirações dos homens. Na verdade, Jesus veio a este mundo para que o seu reino, que não é deste mundo, transforme o mundo dos homens, ou seja, para que o mundo do dos homens seja também reino de Deus! Um mundo que se constrói segundo a verdade de Deus e em que os homens vivem ao ritmo do coração de Deus. Esse é o mundo em que todos os homens, e não apenas alguns, se podem realizar como pessoas e atingir a sua plenitude humana.

“Tu és rei?” Jesus é rei mas não é como Pilatos. E Pilatos pode estar sossegado porque Jesus não vem para lhe roubar o lugar. Mas vem, isso sim, para lhe ensinar, a ele e aos Pilatos de todos os tempos, que ser rei (governar) é uma missão e o poder deve ser exercido com espírito de serviço, com verdade e amor.

  • O poder não confere a quem o detém o direito de o usar em seu benefício pessoal nem para impor aos outros as suas ideias ou pontos de vista, as suas crenças ou descrenças, os seus valores ou a falta deles. Pelo contrário, quem governa assume o dever de promover e garantir o bem comum de todos os cidadãos.
  • “Mandar” encerra mais deveres do que direitos, realidade ignorada pela maior parte dos que mandam. Muitas vezes, eles esquecem que a legitimidade do cargo não se esgota no facto de terem sido escolhidos para ele, mas que pressupõe também a aceitação das responsabilidades e o cumprimento dos deveres que lhe são inerentes. Quem procura o poder, se o faz por vocação, deve estar mais motivado pelo desejo de fazer bem aos outros do que por conseguir vantagens para si próprio,
  • Infelizmente, em todos os tempos e em todos os regimes políticos, com muita frequência, o poder anda de mãos dadas e convive com a mentira e a hipocrisia, com a arrogância e a arbitrariedade, com a ambição e a vaidade, com a ganância e a corrupção.
  • Infelizmente, muitos governantes usam o poder para atentar contra direitos e valores que deveriam proteger e salvaguardar. É ilegítimo o uso do poder em tais circunstância, mesmo que seja um poder obtido democraticamente.

- É, pois, ilegítimo usar o poder para legislar contra a vida, como no caso do aborto e da eutanásia. A vida humana é anterior e vale mais do que qualquer tipo de poder humano. Por isso mesmo, nenhum poder humano se pode sobrepor à vida humana, decidindo o termo da mesma.

- Usa-se ilegitimamente o poder contra a família, quando se protege e favorece mais o divórcio que o casamento, ou quando se quer dar o estatuto de casamento às uniões de pessoas do mesmo sexo. As pessoas tem direito a ser diferentes, mas não podem, ao mesmo tempo, reivindicar os direitos como se fossem iguais. Ou uma coisa ou outra! É uma questão de justiça e de igualdade!

- Usa-se ilegitimamente o poder, quando os governantes favorecem os interesses dos ricos e dos grandes grupos económicos, em detrimento dos trabalhadores e dos cidadãos comuns, aumentando as desigualdades e as injustiças sociais.

- Abusam do poder aqueles que procuram erradicar, em nome dos direitos de certas minorias, os sinais religiosos dos lugares públicos, como a recente determinação do tribunal europeu que exige a retirada dos crucifixos das escolas italianas. Mas será que os direitos das minorias valem mais do que os direitos das maiorias? Ou, pior ainda, as maiorias, sobretudo se são maiorias cristãs, não têm direitos? Não é legítimo nem aceitável que o fanatismo religioso de alguns ou a descrença de outros roubem a liberdade aos cristãos, como se a liberdade destes valesse menos do que a intolerância daqueles.

- Na mesma linha, abusam do poder aqueles que, em nome de uma laicidade mal entendida, implementam uma educação sem Deus, esquecendo por completo a dimensão espiritual das crianças e dos jovens. Deste modo limitam os seus horizontes existenciais e impedem-nos de um desenvolvimento integral e harmonioso.

Jesus ensina, com o seu exemplo, que ser rei é servir, amando as pessoas ao ponto de se sacrificar e dar a vida por elas. O bem dos cidadãos é que deve motivar e animar toda a acção governativa. Só assim se constrói uma sociedade justa e fraterna, um mundo de amor e de paz.

sábado, outubro 10, 2009

"Quem pode então salvar-se?"

Ao ouvirem da boca de Jesus o que é necessário fazer para alcançar a vida eterna, os apóstolos concluem que a salvação não está ao alcance dos homens. Na verdade, a salvação não é algo que o homem possa conseguir só por si, apenas com o seu esforço. Pelo contrário, a salvação é, acima de tudo, um dom de Deus, só Deus pode conceder ao homem a vida eterna. Deus pode e quer. Por isso mesmo, Ele torna possível o que é impossível ao homem.
Deus torna possível, mas o homem tem de fazer a sua parte. A salvação tem de ser desejada e procurada pelo homem. O homem tem de aceitar e corresponder ao dom de Deus.
  • Num primeiro momento, e na resposta ao homem que O interpela, Jesus indica os mandamentos, enumerando aqueles que se referem ao próximo, como o caminho que conduz o homem à vida eterna.
  • Depois, lançando-lhe o desafio da perfeição, Jesus pede ao homem que abdique de todos os seus bens: “vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me”. O desprendimento não vale por si mesmo. Ele vale enquanto se traduz em partilha com os pobres. Além disso, a renúncia aos bens tem sentido na medida em que o homem fica mais livre para seguir Jesus.
Aquele homem sente-se perturbado com aquela exigência e considera que Jesus foi longe de mais. Ele, que antes tinha dito que cumpria os mandamentos desde a sua juventude, agora afasta-se de Jesus entristecido, porque tinha muitos bens e estava muito preso a eles.
  • Afinal, o homem não cumpria tão bem os mandamentos como ele pensava. Antes de mais, não cumpria o mandamento do amor a Deus, porque era aos bens e não a Deus que ele dava o primeiro lugar do seu coração e da sua vida. Depois, também não amava o seu próximo como devia, pois não estava disposto a partilhar com ele os seus bens.
  • Quem está agarrado aos bens materiais e confia excessivamente nas seguranças humanas, é alguém que também absolutiza as suas ideias e certezas, alguém que vive fechado na sua vida e vê tudo em função de si mesmo. Nestas circunstâncias, o homem perde a capacidade e a sensibilidade para amar o seu semelhante.

Contrariamente ao que pode aparecer à primeira vista, o “ser perfeito” não é algo mais para além do cumprimento dos mandamentos, mas sim a exigência de vivê-los de um modo radical. Não basta cumprir o “não” dos mandamentos: “não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não cometas fraude”. Amar não pode limitar-se ao não fazer mal às pessoas.
Pelo contrário, implica fazer algo de positivo por elas. Amar envolve e compromete necessariamente o coração do homem, passa por renunciar e a si mesmo e comunicar aos outros algo da sua vida e do que é.

“Quem pode então salvar-se?”
Tu estás efectivamente preocupado com isso?
Queres realmente salvar-te?
Para tal, estás disposto a dar a Deus a oportunidade de te salvar?
Mas antes: acreditas realmente na vida eterna?
Consegues sonhar para além dos limites do tempo e dos horizontes do mundo?
Vibras com a ideia de viver eternamente com Deus, usufruindo da plenitude da sua vida?
Aspiras a esse mundo de felicidade e fazes dele a meta última da tua caminhada existencial?

“Quem pode então salvar-se?”
Deus quer salvar-te. É o que Ele mais deseja para ti.
E tu queres que Ele te salve?
Mas, então, quem é que ocupa o centro do tua vida?
Qual é o tesouro no qual colocas o teu coração?
Qual é riqueza que tu persegues e o bem supremo pelo qual suspiras? És prisioneiro do teu egoísmo ou vives na liberdade do amor?
És suficientemente sábio para discernires aquilo que te proporciona uma felicidade ilusória e efémera daquilo que te garante uma felicidade consistente e eterna? E és suficiente-mente livre para escolheres a melhor parte?

Deixas que Deus te ame e, assim, te torne capaz de cumprires os seus mandamentos? Se não dás a Deus a liberdade de te amar, tiras-lhe a possibilidade de te salvar, pois só o amor de Deus salva o homem!
Para Deus tudo é possível e Deus quer fazer possível o que é impossível ao homem. Mas Deus, para o salvar, precisa do seu consentimento e da sua colaboração. E quando o homem se opõe a Deus, Deus fica impotente para fazer aquilo que mais pode e quer. Sim, o homem pode impedir Deus de o salvar!
Parece um paradoxo: Aquele que tudo pode, fica sem poder salvar o homem, porque o poder do egoísmo do homem pode anular, no seu caso pessoal, o poder do amor de Deus! Deus quer salvar o homem, mas o homem, exclusivamente por sua culpa, pode condenar-se!

“Que hei-de fazer?”
Tu já sabes o que deves fazer, qual a atitude que deves assumir perante Deus, qual o caminho que deves percorrer. Segue Jesus e sê coerente! Isto te basta!

HORÁRIOS - EUCARISTIA

Sexta - 18.30 h

Domingo - 10.30 h

HORÁRIOS DA CATEQUESE

2º ao 4º Ano - a definir

5º Ano - Sexta - 16.00 (Centro Pastoral)

6º ao 8º ano - Quarta - 16.00 (Centro Pastoral)

segunda-feira, maio 04, 2009

"Tenho ainda outras ovelhas"

Jesus apresenta-se na sua relação com os homens sob a imagem do Bom Pastor. Bom Pastor, no dizer do próprio Jesus, é aquele que conhece as ovelhas, caminha à sua frente e dá a vida por elas.
Como Bom Pastor, Jesus vai ao encontro dos homens e convive com eles, para os conhecer e para lhes revelar os segredos do coração de Deus; para lhes abrir o entendimento e o coração à verdade e ao amor que libertam e salvam o homem; para os ajudar a conhecerem-se melhor: a sua dignidade, o seu lugar no mundo e na história, a meta da sua existência.

Como Bom Pastor, Jesus é sensível e está atento aos pobres, doentes e marginalizados da sociedade, mostrando-lhes que eles são os preferidos de Deus e que Deus quer mudar a sua sorte. Na verdade, Jesus toma a defesa dos mais fracos, denunciando os poderosos que os exploram e oprimem, que tornam a sua vida pesada e difícil. Jesus enfrenta e repele “os lobos” que põem em perigo a vida das pessoas e não respeitam os seus direitos.

Como Bom Pastor, Jesus vai à procura do homem pecador. Vai ao seu encontro, entra em sua casa, come e dialoga com ele, mostra-se próximo e compreensivo, revela-lhe o amor misericordioso de Deus e alegra-se com a sua conversão.

Como Bom Pastor, Jesus está entre os homens para os amar e servir, para dar a vida por eles e salvá-los, para os congregar num só povo (um só rebanho) e fazer de todos filhos de Deus (uma só família). Deste modo, Jesus realiza o sonho de Deus, o sonho do seu amor, o sonho que tem em vista a felicidade do homem.

Jesus, como Bom Pastor, aponta o caminho que devem seguir os apóstolos de todos os tempos, ou seja, o modo e o espírito com que devem continuar a sua missão em todos os lugares, até ao fim dos tempos. Jesus não quer que eles sucumbam à tentação de proceder como os mercenários.

O apóstolo/mercenário não o é, como é óbvio, por vocação de Deus e, consequentemente, não tem o espírito de missão e de serviço. Ele é movido por interesses meramente humanos e apenas vê no que faz um modo e um meio de viver e ganhar a vida.
Nesse sentido, aproveita e explora os sentimentos religiosos das pessoas para satisfazer as suas ambições pessoais.
À sombra de Deus, que Ele não serve nem ama, procura visibilidade e fama, poder e riqueza, privilégios e admiração. É insensível à miséria e ao sofrimento das pessoas e abandona-as nos momentos difíceis e nas horas da adversidade. Foge dos “lobos” ou pactua com eles, para salvar “a sua pele” e não arranjar problemas, pois não o preocupa nem aflige a sorte do povo.
É um simples funcionário do culto, fazendo-se pagar pelos serviços religiosos que presta. Mas não é apóstolo de Cristo, não anuncia o seu Evangelho, não testemunha a sua ressurreição, não se empenha na construção do reino de Deus.

“Tenho ainda outras ovelhas”.
Jesus sente-se pastor de todos os homens e não apenas dos judeus. Os horizontes do seu coração abrangem os ho-mens de todos os povos e de todo o tempo da história. Por isso mesmo, Jesus precisa de apóstolos/testemunhas que continuem e actualizem a sua missão, em cada tempo e em cada lugar da terra.
Deus, fiel ao seu projecto de salvação da humanidade, chama homens e mulheres, consagra aqueles que respondem positivamente e envia-os a trabalhar na sua vinha – o mundo dos homens, para que a salvação realizada por seu Filho Jesus Cristo se torne efectiva no hoje da vida de cada homem. Só Deus, por ser Ele o Senhor do mundo e o Autor da salvação, pode chamar.
Chama quem quer, sem estar condicionado por nada. Não são as qualidades e os méritos das pessoas que influenciam a escolha de Deus. Deus é que capacita aqueles que escolhe tendo em vista a missão que lhes vai confiar. E Deus não tem de se justificar pelas suas escolhas!

segunda-feira, abril 06, 2009

“É como dizes”, mas não como pensas!

Resposta breve e afirmativa de Jesus, à pergunta, igualmente breve e directa, de Pilatos: “Tu és o rei dos judeus?” A pergunta de Pilatos, mais do que interesse em conhecer a verdade sobre Jesus, revela ironia e desprezo a seu respeito. Pilatos faz a pergunta, mas não tem a mínima intenção de dar crédito à resposta, seja ela qual for. Parece-lhe demasiado óbvio que aquele Jesus não é, não pode ser, o rei dos judeus nem de quem quer que seja.
Jesus, apesar de saber que Pilatos não vai tomar a sério as suas palavras nem está em condições de compreender o seu verdadeiro alcance, não deixa de lhe responder. A sua é também uma resposta provocadora. “É como dizes”, mas não é como pensas! Sou rei, mas não como tu és nem como tu imaginas os reis deste mundo!

Os reis deste mundo exercem o poder:
  • com arrogância, prepotência e arbitrariedade, ou seja, sem sentido de missão e espírito de serviço;
  • vivem em belos palácios, vestem esplendidamente e banque-teiam-se lautamente todos os dias, completamente indiferentes à miséria dos seus súbditos;
  • têm exércitos poderosos, fazem guerras, subjugam povos, eliminam adversários, sobrepondo os seus interesses pessoais à verdade e à justiça;
  • são homens cheios de defeitos e de vícios, mas exigem ser obedecidos e tratados como deuses!

“É como dizes”, mas não como pensas! Jesus é um rei:

  • sem palácios, sem exércitos e sem servos;
  • sem trono, sem títulos honoríficos, sem qualquer esplendor humano.

Ele é um rei diferente e o segredo dessa diferença revela-o na resposta que dá ao sumo sacerdote, quando este lhe pergunta: “És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?” Jesus revela e confessa a sua verdadeira identidade: “Eu sou”.
Jesus é, pois, rei do reino de Deus, o reino da verdade e do amor, o reino da justiça e da paz, o reino de homens livres, em que o rei está exclusivamente ao serviço dos homens. Por isso mesmo, Jesus está entre os homens como quem serve e disposto a dar a vida por eles. Jesus é o rei que está disposto a morrer pela verdade e a morrer por amor, para devolver aos homens o sentido da vida e lhes rasgar os horizontes da eternidade.

Morreu pela verdade e por amor.
Parece contrariar toda a lógica humana que Jesus, sendo Filho de Deus, tenha sido condenado à morte pelos homens e tenha efectiva-mente morrido numa cruz! Desde a nossa mera perspectiva humana, Jesus, ainda que fosse condenado pelos homens (os homens podem de facto rejeitar e condenar o próprio Deus) deveria ser capaz de evitar a sua morte, usando o seu poder divino. Porém, a lógica da verdade e do amor de Deus é diferente, e ainda bem para nós!

Jesus foi condenado por dizer a verdade. Antes de mais, a ver- dade que denuncia o mal que existe no coração dos homens e exige ar-rependimento e conversão. Depois, a verdade sobre si mesmo, revelan-do e assumindo a sua identidade, apresentando-se como Filho de Deus. A verdade de Jesus perturba e incomoda os homens, sobretudo os chefes do povo. Com efeito, Jesus punha em causa não só a ordem estabelecida como a própria concepção de Deus e da religião.
- Se Jesus tivesse calado as verdades inconvenientes,
- Se tivesse deixado continuar tudo na mesma,
- Se tivesse pactuado com as injustiças sociais e com as perversões religiosas,
- Se não tivesse questionado os privilégios e as vantagens humanas dos poderosos,
- Se não tivesse tomado a defesa dos pobres e excluídos,
Ele teria sido deixado em paz, não teria sido levado à presença de Pilatos para ser condenado por ele. Mas um Filho de Deus assim não traria qualquer vantagem aos homens nem mereceria o crédito de ninguém!

Jesus morreu por amor.
Jesus (Ele que ressuscitou os mortos) não poderia ter descido da cruz e escapado à morte, respondendo assim às provocações dos seus inimigos? De facto, podia. Mas, se o tivesse feito, teria deixado de dar a maior prova de amor, pois como Ele mesmo tinha dito: “não há maior prova de amor do que dar a vida por aqueles que se ama”. Podia ter escapado à morte, mas, se o tivesse feito, não nos teria salvo a nós.
A verdade pela qual morre e o amor com que morre pela verdade revelam mais e melhor a sua realeza e a sua filiação divina do que todos os milagres que fizera ou quaisquer outros que pudesse fazer naquela hora!

E isso foi captado por alguns daqueles que seguiram e testemu-nharam a condenação e a morte de Jesus.
a) O chamado “Bom Ladrão” reconhece em Jesus crucificado o Rei que lhe pode dar o que ele, naquele momento, mais deseja e que nenhum outro rei lhe pode garantir: a vida eterna. Por isso mesmo, contrariamente ao outro malfeitor, não pede a Jesus que o livre da morte, mas sim: “lembra-te de mim, quando vieres na tua realeza”.
b) Por sua vez, o centurião romano, ao ver como Jesus percorreu o caminho da paixão e ao testemunhar a serenidade com que morreu, descobre e confessa a sua filiação divina: “Na verdade, este homem era Filho de Deus”.
Jesus, na sua paixão e morte, revela algo de extraordina-riamente divino – extraordinariamente divino e suficientemente evidente para que os homens O possam reconhecer e acreditar nele como Filho de Deus e o Salvador do mundo!
Jesus aceita:

  • ser vencido pelo pecado dos homens para, por sua vez, vencer o pecado com o poder do seu amor;
  • a derrota da morte para garantir ao homem a vitória da vida;
  • ser aniquilado para devolver ao homem a riqueza de Deus; a sua morte como o caminho necessário para a vida eterna do homem.

Numa palavra, Jesus aceita ser escarnecido e desprezado (esquecido, redicularizado), considerado como blasfemo e tratado como malfeitor, experimentar o fracasso e sentir a dor extrema, percorrer o caminho da morte, tudo para garantir ao homem a ressurreição e a vida eterna.

Hoje, Domingo de Ramos e da Paixão, vieste participar nesta celebração porque, contrariamente ao sumo sacerdote e a Pilatos, tu acreditas que Jesus é “o Filho do Deus Bendito” e o rei que liberta e salva os homens.
Não quero sequer pensar que possa ser outra razão a justificar a tua presença. Não vieste, oxalá nenhum de vós tenha vindo - apenas por causa dos ramos, porque tens necessidades deles na tua casa ou nos teus campos. Pelo contrário, vieste – oxalá todos tenham vindo por esse motivo - porque sentes necessidade de Jesus na tua vida.

Hoje, celebrando o mistério do sofrimento e da morte de Jesus,

  • Não te comove e compromete o que Ele fez por ti?
  • Não te impressiona o seu amor à verdade e a verdade do seu amor?
  • Não te maravilha que tenha preferido a tua à sua vida, morrendo Ele para te salvar a ti?!
  • E o que estás disposto a fazer para lhe corresponderes?

Hoje estás aqui e participas na celebração da Eucaristia.
Se vieste por causa dele, voltarás no próximo domingo e voltarás sempre, uma vez que Jesus também vai estar presente, para renovar a oferta da sua vida ao Pai e para se oferecer a ti.
Se não voltas e justificas a tua ausência com a falta de tempo ou porque não te convém a hora da celebração, é sinal que Jesus ainda
não é importante para ti e que passas bem sem Ele.

Volta sempre.
Não digas que não tens tempo!
Se calhar, o que ainda não tens é lugar para Ele no teu coração! Quem ama tem sempre tempo e não poupa esforços nem sacrifícios para estar com aquele que ama.
Considera e medita no imenso amor que Jesus tem por ti, no que Ele já fez – e gratuitamente - em teu favor. Então, descobrirás e sem-tirás que com Ele só tens a ganhar, pois não te tira nada e dá-te tudo (Bento XVI).

segunda-feira, março 30, 2009

"Queríamos ver Jesus"

Alguns gregos, que eram crentes no Deus de Israel e se encontravam em Jerusalém para participar na festa da Páscoa, sabendo que Jesus tb se encontrava lá, manifestam o desejo de O ver. Sentiam curiosidade e interesse de O conhecerem pessoalmente. Como não se sentiam muito à vontade para se chegarem junto de Jesus, solicitam a mediação de Filipe (um discípulo que eles conheciam, pois não querem perder aquela oportunidade).

“Queríamos ver Jesus, dizem eles”. E eu pergunto:
  • O que é que eles mesmo querem e esperam de Jesus? Quererão mesmo conhecer Jesus, quem Ele é, qual a sua missão, que mensagem tem para comunicar aos homens?
  • Ou apenas o querem ver, testemunhar alguma obra extraordinária, escutar alguma parábola encantadora?
  • Procuram Jesus, porque suspeitam que Ele tem algo de especial para comunicar aos homens, também a eles, apesar de serem gregos? Ou apenas para puderem dizer, no regresso às suas terras, que O tinham visto e estado com Ele?

O evangelho não responde a estas perguntas, mas as perguntas valem para nos fazer pensar a nós!

Jesus é informado da presença dos gregos e do seu interesse em encontrarem-se com Ele. Porém, Jesus parece não lhes dar muita atenção. Começa, de imediato, a falar do mistério da sua paixão e morte. À primeira vista, não parece ser o tema mais adequado para atrair e cativar os seus novos ouvintes. Pareceria mais razoável que lhes dirigisse umas palavras afáveis ou realizasse alguma obra vistosa. Mas não.
Jesus, consciente de que não pode perder tempo com banalidades nem usar o seu poder divino para divertir os homens, centra-se na sua morte (Esta faz parte integrante da sua missão e é particularmente vantajosa para o homem, pois gerará uma nova vida e uma vida em abundância para toda a humanidade).
Para se fazer entender mais facilmente, Jesus usa a imagem da semente. Uma vez lançada à terra, esta só produz fruto, se morrer. A natureza ensina que a morte é necessária para que a vida continue (para que surja uma nova vida, para que a semente sobreviva numa nova planta e se multiplique em muitos frutos).
A morte não aparece como oposição ou negação da vida, mas como algo necessário ao serviço de uma vida superior.

Jesus morre para vencer o pecado e a morte do homem, para que o homem não morra para sempre, mas, antes, tenha nele a vida eterna.
Jesus morre para não ficar sozinho, como a semente que não morre. Morre para que, uma vez “elevado da terra”, possa atrair muitos a si (para que muitos possam encontrar nele a salvação de Deus).

Jesus sabia que aqueles gregos nunca mais iriam estar com Ele. Por isso mesmo, e para que não dessem por perdido aquele encontro, falou-lhes da sua morte como caminho para a vida eterna dos homens. (Isto é o que melhor revela Jesus, o que justifica e compensa que as pessoas O procurem, O conheçam, acreditem nele e O sigam). Afinal, Jesus prestou uma especial atenção aos gregos, correspondendo, da melhor maneira, à sua curiosidade!

Em Jesus, que morre voluntariamente na cruz, Deus realiza a nova aliança, prometida e anunciada por meio do profeta Jeremias.
Jesus, derramando o seu sangue por amor, redime o ho-mem, purifica o seu coração, torna-o capaz de viver a nova lei do amor. Por meio de Jesus, Deus imprime a sua lei no íntimo da nossa alma e grava-a no nosso coração, e nós aprendemos a conhecê-lo.
Na última Ceia, ao instituir o sacramento da Eucaristia, Jesus confirma que a nova aliança de Deus (a qual abrange toda a humanidade e não só o povo de Israel) é estabelecida no seu sangue. “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós” (Lc).

“Queríamos ver Jesus”.
Nós, os que aqui nos encontramos reunidos em seu nome, queremos, realmente, ver e conhecer Jesus? Queremos conhecer quem é e qual é a sua missão?

Não será que queremos conhecer apenas o Jesus:

  • do presépio, dos pastores de Belém e dos Magos do oriente;
  • que sacia as multidões, que cura os doentes e expulsa os demónios;
  • das parábolas encantadoras e o amigo das crianças;
  • que caminha sobre a água e acalma as tempestades;
  • que toma refeições em casa das pessoas e convive com elas?

Ou será que queremos, efectivamente, conhecer tb o Jesus que:

  • anuncia o reino de Deus e exorta os homens ao arrependimento e à conversão;
  • pede que renunciemos a nós mesmos e tomemos a nossa cruz de cada dia;
  • exige que amemos os nossos inimigos e perdoemos sempre a quem nos ofende;
  • nos diz que a grandeza do homem está no servir e dar a vida;
  • da paixão e da morte, da ressurreição e da vida eterna?

Queremos ver e conhecer Jesus, para acreditar nele, entrar na sua intimidade, O acolher na nossa vida, e segui-lo todos os dias? Temos consciência de que só Ele nos pode ajudar a entender a nossa vida e a vencer a nossa morte?
Se o nosso querer é sincero, então aproximemo-nos dele e escutemo-lo na Palavra do Evangelho; procuremo-lo e acolhamo-lo nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia dominical (comunhão); dialoguemos com Ele na oração; vamos ao seu encontro e amemo-lo nos irmãos necessitados.

Queres ver Jesus para aprenderes com Ele a morrer? É o que Jesus tem de mais importante para te ensinar – e só Ele te pode ensinar - e o que tu tens mais necessidade de aprender.
É necessário saber morrer, perder a vida, gastá-la ao serviço dos irmãos. A morte que gera vida e produz frutos de vida eterna é a vida que se morre, amando os outros. A morte que salva, a morte que dá sentido à vida, é a da vida que se gasta ao serviço dos irmãos.
Quem não sabe morrer assim, quem vive só para si mesmo, esse fica só, a sua vida é inútil, não aproveita a ninguém. Morrer por amor em cada dia ajuda-nos a entender e a aceitar melhor a outra morte.
Mais, ajuda-nos a viver em paz e a ser felizes.