sábado, dezembro 18, 2010

Ser Padre segundo Jesus Cristo


Os meus alunos riam-se, considerando uma simples brincadeira ou uma manifestação precoce de loucura, sempre que lhes falava do sonho da minha vida: quando for grande quero ser padre. Quando se aproximava alguma ordenação sacerdotal, havia alguém que sempre me interpelava: “Senhor Padre, é desta vez que vai mesmo ser padre?” Eu, quase invariavelmente, respondia: “Ainda não. Não tenho pressa”.

Devo confessar que essa minha loucura persiste, porque o sonho que está na sua origem continua a ser o sonho que anima a minha vida. E a loucura atingiu tal gravidade que me impeliu a partilhar este meu sonho, escrevendo um livro: “Quando for grande quero ser padre”. Dependo tanto deste sonho que, sem ele, não conseguiria viver, não poderia ser fiel a Deus e a minha vida seria estéril e inútil.

Mas qual é a verdadeira origem deste sonho, esta consciência e convicção de não ser ainda, este desejo e aspiração de apenas vir a ser num futuro mais ou menos distante? Por outras palavras, como explicar que somente queira ser quando for grande aquilo que já deveria ser em cada dia, no hoje da minha vida e missão?


Ser padre segundo Jesus Cristo é, no entanto, um modelo que, por uma questão de fidelidade ao próprio Cristo, deve ser adaptado e actualizado, tendo em conta os desafios dos novos tempos e dos diferentes ambientes culturais em que o ministério é exercido.

Faz parte da missão da Igreja adaptar, em cada tempo, a proposta de Jesus, atendendo às circunstâncias históricas e culturais em que vive e deve cumprir a sua missão. Só assim, o ministério sacerdotal pode ser compreensível e eficaz no aqui e no agora de cada terra, de cada geração e de cada povo. Isto significa que, ao longo da história, são legítimos modos diferentes de viver e exercer o ministério sacerdotal, sem que se ponha em causa a fidelidade à missão de Jesus.

Porém, neste processo podem correr-se alguns riscos.
  • Por vezes, a “roupagem” humana desvirtua e não está em consonância com o “vestido novo” de Cristo.
  • Outras vezes, os elementos humanos, compreensíveis e ajustados para um determinado tempo e cultura, adquirem o estatuto de definitivos e estendem-se a toda a Igreja.
  • Noutros casos ainda, algumas leis humanas tornam-se mais determinantes e decisivas, na hora de reconhecer a vocação de alguém por parte da Igreja, do que os requisitos indicados por Cristo.

Os critérios humanos podem sobrepor-se aos critérios divinos.

  • Nestas circunstâncias, pode acontecer que alguns jovens, seduzidos por Cristo e dispostos a consagrar a sua vida ao serviço do reino de Deus, deixem de o fazer por considerarem ultrapassadas ou não se sentirem com forças para abraçar certas exigência eclesiásticas.
  • E pode acontecer também, em sentido contrário, que outros jovens, mais do que por Cristo e pelo seu Evangelho, se sintam atraídos pelo que o modelo tem de humano, por aquilo que ele oferece em termos de uma carreira. Esses serão mais funcionários da Igreja do que servidores do reino de Deus. Servir-se-ão mais da Igreja para satisfazer a sua ambição pessoal e servirão menos como “simples e humildes trabalhadores na vinha do Senhor”.

Estes perigos são reais e afectam negativamente a vida da Igreja. Tudo isto nos leva a supor que a Igreja estaria melhor quanto aos sacerdotes, se estes fossem menos dos que são e muitos dos que não puderam ser .

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