terça-feira, março 24, 2009

"Para que todo o homem que acredita n'ele tenha a vida eterna"

Desde o início da sua vida pública, Jesus manifesta ter clara consciência de que a sua missão consiste em vencer o pecado e a morte, a fim de garantir ao homem a ressurreição e a vida eterna. A sua vinda ao mundo homens não tem outra motivação nem outro objectivo. Jesus, ao longo de todo o seu ministério, tem sempre nos seus horizontes o mistério da sua morte e ressurreição.
Desde logo, vencendo as tentações do diabo, Jesus aponta para a vitória definitiva sobre o pecado, que Ele alcançará na cruz. Depois, transfigurando-se no Monte Tabor, Jesus revela antecipadamente a sua ressurreição e que esta constituirá a vitória definitiva sobre a morte.
Por sua vez, no contexto da expulsão dos vendilhões do templo de Jerusalém e para provar que tem autoridade para agir deste modo, Jesus dá este sinal aos judeus: “Destruí este templo e em três dias o levantarei”. Jesus está a pensar no templo do seu corpo que os judeus destruirão, dando-lhe a morte, e que Ele levantará, ressuscitando ao terceiro dia. A morte e a ressurreição de Jesus, para além de garantirem a ressurreição dos mortos, marcam o início de um novo culto, um culto sem aproveitamentos humanos, um culto sem comércio nem negócios, um culto sem sacrifícios nem holocaustos. Antes, um culto em que o homem se relaciona com Deus na base da verdade e do amor.
No diálogo com Nicodemos, partindo do episódio e usando a imagem da serpente de bronze, Jesus fala da sua morte na cruz como algo de absolutamente necessário para que o homem alcance a vida eterna. “Também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha nele a vida eterna”. Jesus enquadra o mistério (o escândalo e a loucura da cruz) no âmbito do amor de Deus pelos homens. “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita nele não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Só a loucura do amor de Deus – loucura de um Deus que não consegue imaginar-se a viver sem o homem - permite compreender a loucura da cruz de Cristo. E só quem acredita na loucura deste amor - amor exclusivamente ao serviço do homem – terá a vida eterna.
Jesus aceita ser elevado na cruz, dar esta prova extrema de amor, pagar um preço tão elevado, para que o homem possa viver eternamente com Deus!

A morte e a ressurreição de Jesus, enquanto garantem a ressurreição e vida eterna do homem, constituem o fundamento e a razão última da nossa fé vida cristã. Na verdade, acreditamos e compensa acreditar em Deus porque Ele, por meio de Jesus, dá uma resposta, plenamente esclarecedora e convincente, às questões fundamentais da nossa vida, entre as quais sobressai a que se refere ao mistério da morte. Sim, Deus convence-nos a acreditar nele e a segui-lo, porque, em Jesus Cristo, garante-nos o que nós mais desejamos e ninguém mais nos pode dar: a vida eterna.
Mas estão os homens interessados em conhecer este Deus ou dispostos a acreditar nele? São sensíveis às evidências de Deus no mundo criado ou estão preparados para captar a presença e a acção de Deus na história da humanidade? Estão os homens suficientemente despertos, existencial e espiritualmente, para sonharem e acolherem o mais além de Deus?

Alguns homens – hoje menos do que num passado recente – negam a existência de Deus (os ateus). Defendem que o mundo é obra do acaso e o homem é apenas o produto mais evoluído da matéria. Como conseguirão eles entender que o “Senhor Acaso” tenha dado origem a um mundo tão extraordinariamente admirável na sua grandeza, ordem e beleza? E como conseguirão convencer-se de que o homem – um ser que pensa e é consciente da sua existência, um ser livre e capaz de gerir o próprio mundo, um ser que ama e, por isso mesmo, capaz de múltiplas relações pessoais, um ser que sonha e, por conseguinte, capaz de se projectar para além de si mesmo – é apenas o produto final do processo evolutivo da matéria?
O homem não consegue entender o mundo e entender-se a si mesmo sem Deus. E quem pensa o contrário, não pensa, porque, se pensasse seriamente, não pensaria assim. O mundo e o homem sem Deus, seria como que um extraordinário Euromilhões sem apostadores, ou seja, um absurdo. Sem apostadores, nem seria possível calhar a alguém nem sequer haveria “milhões” para dar!
Muitos homens, embora não ponham em causa a existência de Deus, consideram e defendem que Deus não pode ser conhecido nem o homem pode estabelecer com Ele uma relação pessoal (os agnósticos).
Então, o artista não se dá a conhecer e não comunica através da sua obra? E Deus, o mais genial de todos os artistas, não se manifesta e comunica com os homens na obra da criação, além de o fazer também, de um modo pessoal, por meio de seu Filho Jesus Cristo?
Dizem que é impossível,
porque lhes é mais cómodo não ter que contar com Deus
nem ter que lhe prestar contas das suas vidas.
Dizem, mas não podem estar convencidos do que dizem!
A maior parte dos homens – os filhos da sociedade de consumo – têm como seu deus o bem-estar material e o gozar a vida. Completamente alienados da sua própria vida, surdos às suas vozes interiores e sem preocupações existenciais, vivem indiferentes a Deus e esquecem a sua dimensão espiritual. Estes gastam a sua vida, passando ao lado dela; gozam a vida, mas sem jamais se sentirem verdadeiramente felizes!
  • Tu, que te encontras aqui a celebrar o sacramento da morte e ressurreição de Cristo, acreditas realmente na vida eterna?
  • Quando “rezas” o credo, limitas-te a repetir as palavras ou sentes realmente o que dizes: “espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há-de vir”?
  • E tens consciência que Jesus é o único Caminho que te pode conduzir a esse mundo de Deus?
  • Estás disposto a seguir Cristo, assumindo o seu Evangelho como programa da tua vida, para alcançares essa vida de Deus?

Seguir Jesus implica abraçar, como Ele, a cruz do amor, porque só esta salva o homem.

  • O amor é cruz, porque exige que renuncies a ti mesmo e venças o teu egoísmo, a fim de viveres para os outros e os servires.
  • O amor é cruz, porque exige verdade e justiça, compreensão e tolerância, compaixão e perdão, partilha e doação da própria vida, e ainda lutar e saber perder em favor do teu semelhante.
  • A tua fé na vida eterna ilumina o presente da tua vida? Inspira os teus sonhos e os teus projectos de futuro? Motiva os teus compromissos pessoais, familiares e sociais? Anima a tua esperança e alarga os teus horizontes?
  • Acreditas na vida eterna ao ponto de apostares nela toda a tua vida? Procura, pois, ser coerente. Não sejas como aquele que não joga e, no entanto, espera que lhe saia a sorte grande! Se, efectivamente, desejas chegar à meta e receber o prémio, percorre o caminho que te leva até lá.

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